JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Da série CHEGADAS E PARTIDAS: Farewell feelings


Quando eu anunciei a minha primeira partida, os meus novos colegas já começaram a gemer de desagrado. Don't go, Isabela! Após repetir isso inúmeras vezes para os afetos que se iam, seria a minha vez de escutar isso com sotaques suíços, paulistas, ucranianos, coreanos e tantos outros mais....

Mas nunca subestime minha capacidade de ser louca, e na primeira semana de aula no último nível eu descobri que eu teria 1 semana a mais do que eu inicialmente previra. Louca, louca, louca, a brasileirinha que sequer sabia que dia teria de partir viu todos os afetos re-sorrirem satisfeitos porque ainda nos restariam alguns dias.

Ainda assim, na 4ª feira da semana que seria a da partida, TODOS estavam na minha despedida, no tradicional bar de chicken wings. Mil fotos, declarações e bons votos, eu me sentia abraçada e muito amada por todos aqueles que, passo a passo, tinham aprendido a gostar de mim como eu gostava deles.

Esta foi minha despedida nº 1!

Na 6ª feira tínhamos uma festa na casa da minha-doce-Tia-ucraniana e do Rei-de-todos-os-reis-paquistanês para o que seria minha real despedida. A festa estava marcada e, mesmo depois de descobrir que aquele não seria meu último dia, não desmarcamos o encontro. Caipirinhas mil para todos, receitas trocadas com uma nova querida turca, algum stress por conta de ciúmes masculinos, música brasileira tocando e uma noite deliciosa com amigos.

Esta foi mais uma despedida, a de nº 2.

Na semana seguinte era minha partida: passagens compradas para outros cantos do país, malas em vias de arrumar, coisas organizadas. E estavam lá meus amigos queridos, de novo, na 4ª feira, me dizendo com todo carinho palavras lindas em sotaques variados. E eu já chorava...

Esta foi minha despedida nº 3.

No dia seguinte, família canadense reunida em torno de uma mesa. A conversa fluente em inglês demonstrava que meu objetivo lá tinha sido cumprido. Alegria demais com as lindas gêmeas, com o casal bonito de pais zelosos, com a filha que me deu um presente lindo, com os meus hostparents que fizeram tudo ser tão mais simples e especial para mim. Foi uma noite muito, muito gostosa, e me senti querida por aqueles que me viram por ângulos tão diversos aos dos meus amigos.

E tive minha despedida nº 4.

A última 6ª feira foi um dia de ansiedade. Eu tinha feito brigadeiros para todos os meus colegas para dizer-lhes 'Obrigado' à brasileira. Fiquei tão feliz em vê-los contentes apesar da tristeza diante da escola cada vez mais vazia. Depois daquele que foi o meu teste final (boas notas de novo, eba!), milhões de abraços e registros daquele que seria meu último dia na escola. A professora, linda e elegante como sempre, decidiu que pagaria um café para todos meus colegas de sala para me dizerem tchau.


E tive minha despedida nº 5.

O restante do dia foi essencialmente de ansiedade. Não fossem os que me esperavam aqui, eu não teria conseguido dizer adeus para os que me cuidavam lá. Crise de euforia, desespero, joelhos e testa no chão, respiração cortada e um choro copioso sozinha no meu quarto; tudo amparado pelos amores baianos, auxiliados pela tecnologia que faz o mundo ficar menorzinho... Graças a Deus que existem tais meios, graças a Deus! Porque consegui me conter, me fazer bonita, abrir um lindo sorriso e ir encontrar meus amigos para uma noite dançante. 

México, Suíça, Japão e Brasil se encontraram para, ao ritmo eletrônico, nos dizermos até logo. Foi um pouco difícil (Thanks a lot, my Sweet-heart, because you were so cute and sensitive about my feelings...) mas a música ajudou a relaxar e depois de uma hora eu já era a Isabela de sempre. E vamos dançar! Até que os meninos chegaram e (deleite total!) dançamos juntos ao estilo árabe, cortando o salão e estalando as mãos. Ai, que delícia!

Dizer tchau para minha Sweetheart foi um tanto desesperador, e agradeço ao Monsieur que me segurou para eu não derreter. Lindo, lindo, lindo. Um pedacinho foi embora com minha Meli, mas eu fiquei mais forte pelo amor que construímos.

E findei minha despedida de nº 6.

No dia seguinte foi de carinho e descanso, com direito a ser levada em casa para arrumar as coisas. Se a viagem prevista não vingou devido à tempestade de neve inacreditável que atingiu a cidade, o restante do dia fez algumas pecinhas que estavam soltas voltarem ao lugar de origem. (I'll miss you, you know...)

Mas no meu último dia, em uma congelante manhã de domingo, tive meu dengo final, com um delicioso café-da-manhã na casa de minha doce-tia. Panquecas, suco, conversa, fotos e a certeza de que a amizade que construímos sobreviverá ao além-mar. Amor daqueles que bronqueia, que manda você se cuidar direito, que manda você ser feliz, sabe?!

E no C-train vi minha doce amiga partir enquanto eu fazia meu último esquilo sorrir, findando assim minha despedida nº 7.

Durante o resto do dia, briguei com a minha bagagem até não poder mais, enquanto dizia 'obrigado/adeus' a alguns amigos e repetia 'tô chegando' para outros. Uma moça atarefada de afetos, tentando dar um último abraço no irmão-mexicano que foi fiel parceiro desde o primeiro dia na cidade.

Tive de deixar esse abraço latino para outra ocasião, porque meu 'pai' tinha preparado o seu prato predileto para nosso último jantar especial. Comida boa, vinho delicioso, fotografias natalinas e presentes maravilhosos que me arrancaram lágrimas por todo o cuidado ali expresso. Ai.... como vou sentir falta deles.

E findei minha despedida de nº 7.

Mas faltava ele, o menino que preencheu minha cabeça por longos e longos dias. E, depois da mala arrumada, ele estava lá para nossa última noite multicultural com música, sheesha, dança e amigos. Obriguei ele a entrar e prometer ao meus 'pais' que eu estaria em casa no dia seguinte sã, salva e a tempo de pegar meu vôo. E ele, lindo como sempre, o fez e me levou embora para eu lhe dizer tchau decentemente.

E foi mais uma noite deliciosa como todas as outras naquela casa-da-diversão, rindo com os moços de sotaque engraçado, ganhando carinho do rei-das-noites e explicando para minha alma que minha lazy-easy-life estava de fato terminando. E depois daquela que certamente foi minha última noite com aquele moço de sorriso tão bonito, voltei para casa sem aceitar ainda o que estava deixando em Calgary.

E, sem um final oficial, vi terminar minha despedida de nº 8.

(...)

O choro incessante no aeroporto na manhã seguinte tinha motivo tão óbvio que a atendente que me ajudava logo entendeu:
- You're sad because you don't wanna leave Calgary, don't you?
- Yeah.. I got here an wonderful time and great feelings.
- I understand. But don't forget: our city will be ever over here, my honey...
- I know... Eu sei. Por isso mesmo que dia desses irei voltar.

I see you soon, Calgary!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Da série MENSAGEM NA GARRAFA: Em memória dos meus

Eu sou uma espécie de raízes aéreas. Meus laços se prendem no alto da cabeça e não na planta dos pés. Não poderia ser amarrada por baixo, porque a agressividade dos passos ao certo me levaria ao chão. Mas meu material interno tende aos desafios, e a gravidade convida ao solo mas não controla o voo.

Pois que sou uma mulher de raízes aéreas. E se por genealogia essas raízes são mais frágeis, eis que elas se embebem de ar até o transbordo.

...

Sim, hoje é sobre saudade de casa

(...)

Não, eu não sinto falta do terreno conhecido sob os pés; já trago hectares inteiros amarrados a meu juízo. Desbravei por toda vida as sombras e caminhos e sabores e trilhas e sementes e clareiras dos que me são meus por direito. Dos meus, que recebem esta alcunha apenas porque me sabem deles.

Os meus...

Sinto falta dos meus, ainda que sempre encontre alguém bonito pra se emprestar para mim onde eu estiver. Não há como reclamar dos braços alheios mais longos do que de costume, das vozes que ecoam diferente, dos abraços que apertam em pontos imprevistos, das histórias que remetem a um outro lugar... Não, não poderia reclamar disso. 


(Eles me alimentam como a vizinha zelosa que cuida dos filhos alheios para permitir-lhes um saldo de ar fresco)

Mas os olhos dos meus são banheira de água quente onde me diluo sem medo de afogamento. Deleite dos que me entendem pelo arfar das ideias, acolhendo meus suspiros e os guardando num lugar seguro. 

Os-bonitos-que-se-emprestam-pra-mim têm, sim, águas mornas e sadias, bastante cheirosas tantas vezes, mas há alguma coisa que falta pra aquietar o corpo completamente. Esse nãoseiquê me dá desejo de ser o mundo bem pequeninho, tanto que bastasse uma corrida mais decidida para alcançar suas águas.

Eu amo os meus. Os que eu assim chamo porque me abriram suas portas, porque me revelaram seus cantos, porque me mostraram os espelhos escondidos do lado de dentro do guarda-roupas... desnecessidades de revelamento extremo. De tão e tanto é que esse exagero do compartilhar-se se faz tão vital. E nesses lugares minha alma pousa e respira.

Minhas raízes são aéreas e, hoje, apontam somente para o alto da cabeça daqueles que me têm com amor.

Obrigada.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Como diminuir de tamanho? Há mesmo sentido em mudar de matéria, de cor, de tom para menos, se foi com tanto esforço que chegamos ao mais?
Ai, cansei de perguntar.
Eu silencio. Há de ser melhor, tenho certeza...
(...)
E, lembremos, a natureza da pesca e da caça são tão distintas. Volte àquele dia em que você entendeu a loucura do amar-se, mocinha. Volte, caminhe até ele se for necessário. Não enlouqueça de terror e cansaço. Caminhe...
E entenda: não adianta correr atrás do peixe ou aguardar calmamente a presa. São, sim, diferentes, inclusive nos sabores. Saber aguardar é coisa difícil, sim, eu entendi isso há tanto tempo, desde o primeiro grito ofegante querendo que a realidade fosse outra no instante seguinte.
Ela não será. Nem pelo mais poderoso dos feitiços, nem pelo mais vigoroso dos golpes. Ela é maior, mais ampla, mais forte e mais duradoura que os ganidos de mulher desesperada.
Corre pra cima se as paredes estiverem apertadas. Descola da pele pela velocidade do salto, se for preciso. Mas, por favor, não fique parada e sucumba às incertezas que você tem criado.
Corre, mulher. Corre!


‎"Saber aguardar é coisa difícil, sim, eu entendi isso há tanto tempo, desde o primeiro grito ofegante querendo que a realidade fosse outra no instante seguinte.
Ela não será. Nem pelo mais poderoso dos feitiços, nem pelo mais vigoroso dos golpes, nem pelo querer mais sutil. Ela é outra. E sempre será maior e mais ampla e mais forte e mais duradoura que os ganidos de mulher desesperada.
Corre pra cima se as paredes estiverem apertadas. Invade o solo. Descola da pele pela velocidade do salto se for preciso. Desafia os ossos. Parta-se em inúmeras. Não dilua-se no ar. Segura-se a sua matéria, segura firme e de mão cheia.
Só, por favor, não sucumba a incertezas residentes nos olhos. Não fique parada a esperar um fim.
(...)
Corre, mulher. Corre!"

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Da série POESIA BARATA: Financeiramente falando

Morro tantas vezes por dia que não haveria como pagar as carpideiras.

Ninguém chora as mortes cotidianas, então acumulo corpos olorosos na sala de estar.
Pessoas que eu era ontem hoje deixam de servir tão logo é notado o Sol a esgueirar-se pelas cortinas.
Não há como enterrar todas elas, não há, Isabela(s), não se preocupe(m). Todos irão entender que não se trata de falta de zelo...
Pagaria com meus olhos se eles aceitassem desligar-se das suas moradas, se eles estivessem desatentos por quaisquer pares de minutos...
(...)
Sim, eu os roubaria para pagar minha paz.
Mas eles nunca ficam ausentes. É sinceramente muito estranho.

Mas, sim, falava sobre os corpos. 
Pilhas de ossos aquebrantados por dores tão bobas que haveria de enrubescer até aqueles abatidos pela febre ou gripe ou gastrites. Ardores tão bobos que matariam de vergonha mesmo os finados pelos males mais estúpidos.
Mas são minhas queimações, e elas têm matado milhares de centenas de mim.

(A white lie, maybe...)

E para onde olhar se para dentro as luzes se apagaram e as portas do sentido se fecharam até para o tato. Onde?
(...)
A verdade é que nem tem doído assim como parece, mas o vício me obriga a gritar alto para que alguma parte sã desperte e venha em socorro dos cantos mais bagunçados.
Não, não se preocupe. Não há nada machucado, guarde os curativos, por favor. Nada mais sangra, meu querido.
Há muito eu sequei também por dentro. Alimentai-me de seus fluidos, Ânimo, porque tenho medo de sucumbir a essas sedes que nunca terminam.

Mas agora sinto apenas sono. Legítimo, sim. Talvez.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

DA SÉRIE FURTOS VIRTUAIS*: Ulisses nosso de cada dia

Itaca

Se partires um dia rumo à Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posidon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito. tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posidon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.

Constantino Kabvafis (1863-1933) 
in: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz.

Presente furtado da caixa de verdades de Lisavietra Dias.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Nota da autora

Mas faz tanto tempo que não escrevo que quase esqueci minha senha. A falta de uso, o costume, o hábito, a repetição, o eco... coisas tão úteis quanto traiçoeiras em determinados momentos.

Cheguei a esta cidade há mais de 1 mês e os avanços notáveis na comunicação se chocam com a desestrutura interna. Mas nem cabe falar disso, porque o silêncio tem sido parceiro fiel nos momentos de spins do lado de dentro.

Aí que a maluca aqui, depois de rodar-dançar-pular-cair-correr-confundir feito louca, desiste de ser reta e se arruma em pontos. O que melhor do que tópicos para ajudar um adulto confuso? Até tentei arrumar a minha cabeça para criar meus próprios tópicos com alguma cronologia, mas desisti instantaneamente, então não espere coerência nas linhas a seguir.

Com amor,
Isabela

____________________________________________________

  • Eu vim parar no meio do nada;
  • É possível encontrar nossos pares em todo lugar;
  • Esta é a cidade mais espalhada de todos os tempos ever!
  • Don't lose what you want of your sight, dizia o biscoito;
  • Eu bem que quis uma sogra da Tanzânia, admito no auge de minha heterogênea-alma-multicultural, mas...
  • Raspas e restos não mais me interessam, foimalaêpapá;
  • Meu passarinhos são os mais belos, meus amigos são os mais fortes, minhas verdades são as mais efêmeras (esta afirmação se auto-destruirá em 15s);
  • Prefiro francês ao inglês, mas a ideia de virar poliglota me faz dar gritinhos de ansiedade;
  • Eu concordo com Raiça Bomfim: o texto da salvação tem sete palavras: esquecer e conhecer e conhecer e esquecer e esquecer e conhecer e esquecer;
  • Eu amo muito fácil e muito rápido e com muita verdade e muitos ao mesmo tempo e muitas vezes por estação;
  • Agradeço ao Cosmos diariamente pela afirmação acima ser verdadeira;
  • Meu castellano é ruim mas que eu me comunico direitinho, ah, isso eu me comunico!
  • After C class, piada interna, deliciosa e tonta repetida em looping até o fim da vida;
  • Meus 2 irmãos vão casar. Simples assim.
  • Eu definitivamente não pareço ter 28 anos pra ninguém;
  • Com qualquer meia dúzia de palavras eu sou capaz de fazer piada em qualquer idioma (leia-se: atestado de tontagem profissional);
  • A nossa gaveta é a melhor!!!!!!!!!!!
  • Nossos apelidos são os melhores (Aquidauana, Ursinha e Leôncio estão no top 5 de minha vida rsrsrsrs);
  • Ela tem olhos de aço mas coração de brasa;
  • Ne pas perdre de vue ce que vous voulez pour votre vie;
  • Talvez minha missão na Terra seja ensinar diversidade aos outros, na moral;
  • Sim, o ideal da mulher moderna sobrevive no além-mar;
  • Tem pessoas que eu queria muito, mas muito, mas muito meeeeeesmo ao alcance das mãos para eu afirmar com o corpo todo o quanto as admiro;
  • Eu quero ir pro Quebéc treinar meu francês, ora bolas!
  • Preciso fazer um novo solo;
  • AMO S-AB-E-R QUE NA MESMA RUA QUE EU VIVEM ESQUILOS, COELHOS E BICHOS FOFINHOS OUTROS;
  • Eu estava na homestay errada mesmo, não dá pra negar. Que mané hora de fazer cada coisa, o quê, meu rei?! Obrigada, meu Deus!
  • I also wanna be a hunter! Or a handsome cowboy, teacher!
  • Uma certeza que tenho: minha casa vai estar no bordel no Carnaval 2012. Evoé!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Da série NOTÍCIAS LANÇADAS AO VENTO: Sunshine


O humor é, definitivamente, uma forma refinada da clássica inteligência. O resto é (pretensioso) silêncio. 
(...)
E tenho dito.

domingo, 21 de agosto de 2011

Talvez o monstruoso seja admitir que ele me embebeu de silêncio e roubou meu amor pelas palavras. Talvez seja isso, só isso: fortaleza que se desfez pelo discreto filete escorrendo por sua fundação. / E talvez eu tenha vergonha disso, de ser tão pouco, de ver tanta riqueza falida por um golpe tão simples.

Talvez eu quisesse que fosse uma imensa tragédia, dessas que fazem todos abrirem largamente a boca em sonoros 'Ohs' e tudo se finda na misericórdia diante do irrecorrível. / Talvez seja só orgulho, ego, pequeneza, transtorno, retorno, desleixo com a verdade. / Sim, talvez eu não queira tanto assim crescer e minha alma sinta reais ganas de se apequenar e entrar buraco do rato adentro.

Talvez eu comece a achar o mínimo espaço suficiente para mim.

(...)

Alguma coisa em mim calou e não sei mas como fazê-la dizer. Eu preciso ficar em silêncio, simplesmente preciso  e sei disso, como o velho curandeiro receita repouso sem explicar o porquê.

Da série MENSAGEM NA GARRAFA: Brasa nos pés

O desejo de me encontrar é tanto que sinto receio em escrever. Temo abrir a porta e sentir as palavras saírem em fúria, loucos ventos derrubando tudo o que havia de certeza até ontem, palavras preenchendo a tranquilidade dos dias. 
Sim. Eu sinto medo. 
Mas é tanto medo que não permite nem que eu fique em silêncio, nem que eu pare um segundo, nem que eu me lance sobre a lâmina. É medo tamanho que modifica a estrutura do corpo e é preciso mudar de posição de novo e de novo e de novo pra se ajustar a ele. 
Medo que é brasa nos pés, calo entre os dedos, afta no céu da boca, queimadura na pele, bolhas nas mãos.
Coisa que não se permite ignorar. Terror que GRITA - porque o silêncio é sua morte e isso ele não permite. Tem-se de modificar o olhar, alterar os cheiros, mudar a cor dos dias para mais claro ou verde ou opaco, depende do humor.
(...)
Ai. A vontade de dormir retorna e já não me lembro sequer onde fica o quarto de cortinas pesadas para meus olhos acalmarem. E desta vez, deste lado, não há tranquilizações ou cafunés ou histórias contadas para empurrar porta afora o eco da noite que por vezes dá paúra de verdade. Desta vez é jogo de menina-crescida e só há a mão direita pra a apertar a esquerda e vice versa. Sabe isso?
A brincadeira foi ficando mais séria e em algum momento deixou de ser divertida, ora pois. Eu não queria nada disso, talvez seja a mais simples verdade.
(...)
Eu não queria ceder às palavras, senhor, eu tinha te dito antes, não? 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Da série MENSAGENS PELO CAMINHO: Dicas para viajantes

Convivendo com pessoas diferentes, com pensamentos diferentes, estilos de vida diferentes, empregos diferentes eu tenho que me cuidar pra não entrar em parafuso.


Como eu escolhi viver, afinal, foi baseado em quê? Como decidi por essa vida? Eu não sou do tipo 'que é levado', definitivamente.


Cinco minutos de conversa deixam isso bem claro para qualquer um.


Mas aí, limpando meu computadorzinho não-super-powerful, organizando minhas coisas não-mega-hi, tirando meus sapatos não-super-fashions, eu me bati com esse gráfico que adoro:


E lembrei: eu escolhi esta vida porque eu POSSO ter esta vida. Diferente assim, arriscada assim, divertida assim, mais simples e honesta assim.


Isabela, me amo!


E tenho dito.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Da série GRANDES SEGREDOS DA HUMANIDADE: No, thanks

Em algum momento perdido no Tempo&Espaço eu aprendi a reconhecer quando o problema é comigo e quando é com o outro.

Eu de fato me esforço pra não levar pra casa o que não é meu. Se a maluquice/preconceito/babaquice/medo/baixa-estima é do outro, eu não pego pra mim não. "Muito obrigada, mesmo, mas não quero."

Se me perguntar se isso dá certo eu vou responder: 'quase sempre'. 
Se me perguntar como faz eu vou dizer: 'não faço ideia'.
Se me perguntar por onde começar eu direi: 'cuidando de você'.

Ninguém pode cuidar mais do outro do que de si. Isso começa por você. 'A máscara primeiro em você, e depois na criança', diz a sábia filosofia dos planos de emergência aéreos.

(...)

Em algum ponto importante do Tempo&Espaço eu entendi mais ou menos quem sou, o que eu posso, o que eu quero. O resto não é comigo não, na moral.

Circulando em terras estranhas é muito importante entender bem isso. Depois eu desenvolvo.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tá tudo explodindo.
Do teto ao chão.
Cansa.
E isso é chato.
Eu estou com raiva de ter sentido tanto.
E isso é frustrante.
Mas vou admitir, assim que as coisas passarem, que eu nunca nem me importei tanto assim.
(Essa defesa do estado das coisas é mais uma defesa de minhas coisas.)
Vícios de conquistadores.
Eu nem quero mais essas coisas assim.
E isso já faz tempo, na verdade.
Eu queria ter sido a dona da palavra, talvez.
Simples assim.
Boa noite, Isabela

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Da série GRANDES QUESTÕES DA HUMANIDADE: Ser-se quem se é

Eu acho tão bonito gente que come pouco.
Acho bonito gente que fala baixo,
bonito gente magra,
acho lindo cabelos lisos, muito pretos e muito pesados,
acho lindo gente tranquila, que escuta todo mundo e sorri sempre,
e gosto de verdade pessoas que amam a tranquilidade da rotina.
É lindo também gente calma, que não xinga nem se descabela,
admiro quem aprendeu cedo a ficar em silêncio,
e adoro cores leves na voz, sutileza, doçura.
Adoro mesmo, mesmo, mesmo.
Mas meu lado feminino é tão masculino, tão pragmático, tão pouco sutil. Eu tenho a mão pesada, ora bolas, porque em algum lugar troquei precisão por intensidade.
E, isso não é segredo: eu posso ser muito, muito violenta. Acima do correto, acima do aceitável, acima do juridicamente inofensivo.
Eu costumo me perguntar onde eu aprendi essa violência toda. Movimento que parte, que rasga, que rompe. Me acarinho porque, graças a muitos esforços diários, eu a tenho canalizado para construir alguma coisa de positiva. Mas eu tenho medo disso que habita aqui, sinceramente.
Não tem sido simples nesses tempos de chuva. Uma pessoa mais cínica, mais provocativa, mais alheia ao meu bem-estar pode abrir uma caixinha de todas as mazelas de uma alminha aquebrantada que estão guardadas aqui. Logo eu, que posso ser tão vingativa. Ridiculamente, novelisticamente, pacientemente vinagativa...
Minha alma está se curando, está se reconfigurando, está exercitando os perdões.
Por favor, do not disturb.
Por favor, não bata à minha porta, não me chame para um conflitinho à toa só por capricho. Não chame, não chame. Porque tem dias que a gente pesa a mão e tudo vira pó no entorno.
(...)
Nos dias de tensão demais, como ontem, eu me entendo uma boa mulher porque tenho domado os impulsos mais pavorosos e colocado produtividade saudável no lugar deles. Mas meu corpo tem me punido, já disse, e eu simplesmente emano tanta energia retida que quebro coisas. Destruo coisas físicas, literamente: portas, aparelhos eletrônicos, meu carro, louças; ao meu toque é comum as coisas cederem à pressão e se partirem. E eu tenho aprendido a conviver inclusive com isso.
Logo eu que acho tão bonitas as pessoas que não dessarrumam nada por onde passam...
(...)
Já que muitas coisas se somaram nesses dias, era bom eu avisar ao universo a tempo de ele me ajudar: não quero ter que conviver com a vaidade de mais ninguém que caiu de para-quedas em minha existência.
Mande essas pessoas embora, por favor. Com seus semi-sorrisos, com seu cinismo, com sua competição, com seu beleza pré-editada.
Eu quero que a violência me abandone um pouco, e para isso eu preciso de sua ajuda, senhor.
E pra moça eu digo: vá embora, aqui em minha casa não há nada pra você levar.
É o que eu tenho pra hoje.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Eu não sei muito bem o que estou fazendo comigo não; mas consigo entender que é alguma coisa muito poderosa em termos de mudança.


Já vi esse filme antes. É jogo de gente grande mesmo.


Isabela-growing MODE ON.


Agora vou ali dormir no chão para ver até onde a minha veia fransiscana se sustenta. E bjo-Band!

domingo, 24 de julho de 2011

Da série MENSAGEM NA GARRAFA: Juramento

Pelo que se foi, eu te prometo: não irei mais ameaçar o silêncio.
(...)
E obrigada por ter me dado a chance de consertar isso a tempo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Da série SUSPIROS E SORRISOS: Prece de gratidão

Pois pense em uma pessoa leve!
(...)
Agradecendo em silêncio pela minha capacidade de ter amor pelas pessoas.
Obrigada Cosmos, mesmo e sempre, por estar cercada de amor de verdade.
Um alívio que não tem nem como medir. Ufa...

sábado, 16 de julho de 2011

Da série SEGREDOS E SUSSURROS: Rotas de navegação

Por que eu me imponho tantos desafios se eu sei que sinto medo? E eu temo tantas coisas. Eu tenho medo de quebrar os dentes, de ficar só, de baratas, de mentiras internas, de enlouquecer, de engordar, de não entender, de entender mais do que todo mundo, de ficar doente demais e não poder me cuidar. É; sobretudo de não saber cuidar bem de mim. 
Eu sinto muito medo, muito medo de me abandonar...
Ai, como eu alimento lugares duros de enfrentar. E como eu me lanço justamente nos lugares mais nebulosos e mais difíceis para esta alminha aquebrantada aqui.
(...)
Então, por que eu faço isso? Porque tanta sanha de caminhar por onde não conheço? Por quê?
São todos os desafios que meus braços alcançam, sempre e toda vez. Escolho cada um deles. Cada sugestão de suores, cicatrizes, superação, tudo isso me atrai como um felino diante de sangue fresco. (Saudações póstumas aos meus ancestrais desbravadores, que nem mesmo diante dos oceanos desconhecidos sugerindo a beira do mundo e uma queda infinita, temeram a imensidão do desafio de se reconhecerem num universo inexplorado.)
Me forjei a ferro quente, e amo os cortes profundos porque suas marcas servem de lembrete de minha força. Guerreira em algum lugar, sim, mas aprisionada em sonhos menores do que uma casa de bonecas branca e rosa.
O que temer então, se não me amedronta nem a perspectiva de perder partes do que sou?
Eu sou viciada em me superar, em me desfazer e recriar. Continuidade não é o meu forte, só se for na insistência da necessidade do salto. Moto-contínuo de testes, loopings, quedas, lançamentos, exaustões. Não aprendi a ficar em um só lugar e tampouco prestei atenção às lições de vôo. Minhas cartas de navegação são somente coisas coloridas, retas embaralhadas de expectativas e desejo. Estrela que reflete o mar que reflete a estrela. Me perder na escrita e na ação.
Quantas vezes a gente também não se comporta como coelhos, pegando caminhos que nos levam a lugar nenhum apenas por dar ouvidos demais à gente que está do lado de fora do nosso jogo?
O que eu quero afinal? O que temer, enfim? E, diabos!, para onde estou indo com esta certeza quase febril? Aonde?
Talvez mais do que a nova morte, eu tema a perspectiva de me perder de mim mesma. Talvez seja isso que vem gerando tanta e tanta água em meus pensamentos...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Da série LEMBRANÇAS PODEROSAS: Arrumações internas

Remexendo meus arquivos de coisas sobre Fragmentos, por ocasião da apresentação de meu solo Cartografia de um Relevo Interno na faculdade de Teatro da UFS (SE), eu cheguei a este poeminha, enviado por um amigo amado como resposta à pergunta que martelava minha cabeça na época da montagem: o que é essencial levar em uma viagem de auto-conhecimento.

E, Fabão, meu conhecedor de longa data, que já me viu em tantas e tantas formatações, lançou mão de sua singeleza toda.

(...)

Em tempos de dolorosas mudanças, de abandonos forçados e de peito em espiral louca, essas palavras me pareceram tão atuais de novo...


Presentes para uma viagem

Deixar o que se é pra deixar
Levar o que se é pra levar. Dispensar o inútil e guardar o necessário. 
Afinal de contas é preciso que não falte mas é fundamental ter espaço para o que vem. Quero comigo uma bagagem que possa carregar sem sofrimento. 
Quero agilidade para me movimentar. Quero leveza.

Isso, amigo. Para meu bem, preciso de toda leveza que eu puder suportar agora.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ai, que a única coisa que meu corpo diz é palpitação, intranquilidade, loucura, demência, saudade, necessidade, vontade, querência, transtorno, vazio, angústia...


Ai, que serão dias difíceis.


Ai, que eu quero que essa tristeza nunca tivesse existido.


Ai, que eu queria que os tempos de subida voltassem agorinha mesmo.


Ai, que se nada desse certo, eu queria ir dormir e quando acordasse tivesse passado.


Ai... tá doendo! Merda, tá doendo muito. Passa, passa, passa, desespero.

domingo, 3 de julho de 2011

DA SÉRIE CONFISSÃO E LOUCURA: Queda em parafuso

Depois de um ano e meio de muito crescimento, conflitos e um querer que ainda me engole, abandono agora o lugar que vínhamos tentando construir.


O que dizer?


(...)


(...)


Só ficaram lágrimas por enquanto. Simples assim, doloroso assim, desnorteador assim. Porque eu amo, amo, amo, amo, amo, amo, amo, amo.... e queria que fosse tudo de um outro jeito. Mas...


Merda pra nós!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tem uma coisa que o tempo nos ensina: a respirar.
Não adianta, se você deseja algo, gritar para acelerar, se jogar no chão para impedir. Tem coisas que simplesmente são.

Com o amor é engraçado: fingir que se saiu dele quando ele ainda está em si é perda de tempo. Das maiores, mais graves e mais sofridas. Tem que esperar ele ir (se é que um dia ele vai mesmo de todo....)

Aprendi a ficar enquanto é importante. E respiro. Tenho aprendido a respirar profundamente...

O problema é quando o outro nos coloca em sobressalto por algum motivo, de maneira corrente e irrecorrível. Só para nos ver engasgar com a pobre tranquilidade consquistada a duras penas.


domingo, 19 de junho de 2011

Da série SEGREDOS E SUSSURROS: Lobo em pele de carneiro

Eu sou difícil. Sim. E sou uma pessoa difícil. Mas posso ser difííííííííííííííícil como poucas, com vogais sofridas que se repetem ad infinitum.

Mas (porque em se tratando de confissões é sempre bom ter um 'mas'), eu sei ser uma fofa. Transtornantemente agradável. A rainha da festa, a alegria dos convidados, a mais gentil, a mais doce, a mais atenciosa, a mais engraçada, a mais delicada, a mais solícita. Se eu escolher ligar o meu botão da doçura, os incautos não poderão resistir. As palavras são sempre as certas, as entonações as mais adequadas, os elogios corretamente dimensionados. Tu-di-nho no lugar.

(...)

Em momentos assim desconfie. Desconfie severamente - é a minha única advertência. Porque me vestir com as peles mais palatáveis do guarda-roupa é uma declaração de desconforto de minha parte. A velha técnica de me prémoldar ao contexto para que não me desejem moldar de fora pra dentro. Por medo de ser modificada por coisas nas quais não acredito, não aposto, não gosto eu me disfarço de igual. Para não deixar de ser diferente.


Somente aos amigos, aos bem-vindos, aos amados eu apresento minhas vísceras. Desagradáveis, pulsantes e irremediavelmente sinceras. Somente para vocês, amigos, eu mostro meu avesso.


Aos demais, meu melhor sorriso, piadas pré-fabricadas, entonações perfeitas, desempenho impecável. Nada de conversas para além da cena. Nada de beijinhos trocados no camarim ou cabelos molhados à saída da apresentação. Nada. Somente a distância da admiração controlada.


Pois somente aos que não amo é que eu reservo os cortes da Isabela hermeticamente bem embalada. Por isso eu peço: aceite meu sangue e ossos e peles e nervos como a mais sincera das declarações de amizade. Porque é isso que de fato eu sou.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Da série SOLTEM OS FOGOS: Mais um

Pronto que defendi meu mestrado ontem e virei MESTRA! 

Nem entendo muito bem o que fazer com essa situação, mas sei que é bom, que estou mais leve, que me liberei com êxito de um compromisso importante, que não posso parar e que tenho reunião daqui a pouco sobre outros assuntos.

Tô bem feliz, porque foi o melhor que poderia ser, cheio de amigos, banca generosa, artistas colaboradores lindos e tudo curtido com prazer.

Eia! Que venham os novos vales de caminhada.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Da série SEGREDOS E SUSSURROS: Cassandra, Morfeu, Isabela

Eu tenho um pouco de medo das coisas que eu digo. E, mais ainda; há coisas que enquanto eu as estou dizendo eu já recebo um 'informe mental' me dizendo que terei de desdizê-las em seguida. Como se minhas profecias fossem impronunciáveis, bastando afirmá-las para elas se desfazerem.

(É fogo quando se tem pessoas queridas por perto, com quem você deseja partilhar as coisas, segredos, descobertas, planos, sensações, mas não pode porque sabe que essas mesmas coisas irão se desfazer no momento em que você as pega com os dedos para mostrar ao outro. Vidências feitas de bolha de sabão; assim são as minhas.)

E tenho uma droga de intuição lascada de forte, ou de leitura do ambiente, ou do que quer que seja. E sei, de olhar para alguém que amo, quando perdi a pessoa. Quando errei em algum lugar. O 'x' é que nunca sei qual é exatamente 'o' lugar, mas sempre sei se algo partiu.

Mas, novidade da semana, agora meus sonhos (aqueles mesmo que semana passada eu afirmava que nada me diziam) me mandaram um recado hoje. Uma mulher me enviava uma carta em sonho. Na hora não consegui ler o conteúdo, mas sabia bem a função daqueles escritos: eram um guia de leitura para uma situação, por assim dizer. 

Eu o aceitei, o entendi, mas  de nada me serve. Simplesmente não posso compartilhar aquelas informações com mais ninguém. Afinal, foi recado enviado na forma de sonho, e ninguém vai pra frente de um Juiz dizer: "Ô, Meretíssimo, a minha testemunha ocular neste processo é Morfeu." Simplesmente não pode.

Aí eu tenho vontade de bater a cabeça na parede, porque eu já sei, já senti, já entendi, mas sem as tais 'provas' concretas a gente não tem direito nem mesmo a pedir abertura de discussão. Só que minha experiência já me mostrou inúmeras vezes determinadas situações, e só pela aparência dos sujeitos envolvidos eu já reconheço o roteiro inteiro.

No meu roteiro há um Deus, uma carta, uma mulher que vai partir, muitos sentimentos, e algumas ausências significativas. Palavras que não vêm e deixam crateras abertas no peito da gente. Mas (essa é a parte mais dura) há algumas pessoas do lado de fora do lar do herói, sem rosto, mas bem, bem visíveis. Eu já sei o que vai acontecer com os personagens, eu sei. Mas não adianta de nada eu contar para o espectador da poltrona ao lado, porque ele insiste em deixar o filme correr para ver, pelos seus próprios olhos, o final trágico.

(...)

Como nos mitos gregos, os arquétipos nunca mudam. E as tramas se sucedem, iguaizinhas, desde que o mundo é mundo. Mas os outros espectadores precisam viver sua própria catarse. Através do meu Drama, o que é pior.

Então que venham o sangue, o choro, o grito, a força, o furacão, a tristeza, a avalanche, as precipitações trágicas todas. A mim, silenciosa Cassandra que virei, só resta me recolher junto a minha vidência.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Da série SEGREDOS E SUSSURROS: Expandir e retrair

Tem horas, tem dias, tem suspiros que fazem a alma entender o tamanho de tudo. A imensidão do mundo, o inalcancável desse estar aqui.

Loucura lourcura loucura. Mas nada de loucura sonora, de sandices coloridas, nada de leveza. Dureza, isso sim. A alma enlouquece de tentar se expandir e chegar pelo menos perto da beirinha desse todo. Ela tenta, mas não chega nem no início do caminho.

Aí que ela se retrai, e dói tanto que a vontade é de cuspi-la boca afora.

(...)

Sabe isso? Pois me sinto assim neste exato momento em que te escrevo.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Queimei os antigos navios. 


E que venham os novos mares de certeza e calor!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Vinte&oito

Assim... amanhã eu faço uma década de maioridade. Isso é coisa pra caramba, especialmente para mim, mocinha que detesta envelhecer. Lembro da agonia de ver o tempo me comendo ainda aos 20 anos. Como uma coisa que se embolora pela simples passagem dos dias, e nada pode ser feito diante disso, eu me sinto carcomida por um fluxo contínuo e incontrolável.

E, sabe.. eu não estou nem um pouco feliz com onde estou neste momento. Quase que detesto o entorno. E nisso eu me sinto sozinha entre os meus, ao semi-lado do mocinho-bonito-por-quem-inventei-de-me-encantar, com a família, quando encaro meu silêncio... Ruim. Ruim. Ruim. Ruim...  Verdade seja dita: me sinto amada em inúmeros momentos, mas desesperadamente perdida. É de se contar nos dedos quem consegue escutar, simplesmente escutar, o que eu digo, sem tentar me dar rápidas soluções pré-prontas para minha ladainha não incomodar os ouvidos. E quando isso ocorre o amor vira placebo vagabundo, que dispenso sem pensar duas vezes.

E é nesses instantes que mais me sinto velha, engolida pelo fluxo a me arrastar para muito longe das possibilidades de mudança. Sinceramente injustiçada pela falta de escuta, pela falta de amor prático, pragmático, que não é só lamber o pêlo como igualmente ensinar a ficar de pé. Aprendi a amar desse jeito; de maneira concreta, por assim dizer.  E me dou o direito de me doer de-com-força e sem pudores, porque não sou nem das que mais reclamam, nem das que se amuam por tudo, muito menos das que não agem... Eu afirmo tantos lugares que simplesmente não entendo a falta de paciência quando me interrogo. 

Talvez seja isso... Confusão de pontuação.

A agonia é notar que, por desgosto, vou me fechando em meus problemas. Não vou mesmo deixar de me dar ao outro, de escutar, de me fazer presente, de ajudar pragmaticamente como eu aprendi mas estou certa de que minhas dores são meus segredos, visualmente desinteressantes aos amigos/amados/parceiros/torcedores-em-geral de minha vida. Eles me gostam inteira, em pleno funcionamento, forte e competente, porque assim se acostumaram a me ver; mas, merda, eu não sou sempre assim!

Pois, é isso. Por dentro, algumas certezas e satisfações íntimas de ter encontrado formatações adequadas a meu bem-sentir. No lado de fora, um sorriso firme, para que me deixem em paz em minha falta de brilho. E, frise-se: sorriso em silêncio, porque já deu tempo de entender que esse barulho não se faz audível o suficiente nesses dias tão ruidosos em que estamos todos imersos.

Feliz ano novo pra mim, afinal.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Da série ESCRITOS POÉTICOS: Mais de Ana Paula

VIAGEM

Preparei-te na pedra da casa / Asas do passaro Kalulu /Com pedaços de árvores destroçadas pelos raios / E resina quente. // Chamei a metade gémea do espírito / Para te passar remédios / Da cabeça até aos pés. // No fundo de meu corpo perfeito / Escondi / Pedaços de argila e feitiços fortes. // Em cada uma das doze cabaças da origem / Deitei o vinho dos votos / Um pano novo da costa / Três missangas azuis / E cera da colmeia menor / Todos os dias conservei aceso o fogo sagrado / Na hora dos fantasmas / O vento diz-me a tua voz / É a voz das viagens / Sem regresso.




ENTRE OS LAGOS

Esperei-te do nascer ao pôr do sol / E não vinhas, amado. // Mudaram de cor as tranças do meu cabelo / E não vinhas, amado. // Limpei a casa, o cercado / Fui enchendo de milho o silo maior do terreiro / Balancei ao vento a cabaça da amanteiga / E não vinhas, amado. // Chamei os bois pelo nome / Todos me responderam, amado. // Só tua voz se perdeu, amado, / Para lá da curva do rio / Depois da montanha sagrada / Entre os lagos.

Da série LEMBRANÇAS PODEROSAS: Ana Paula Tavares

Foi na época d'O Contêiner que me deparei com essa poeta. Ana Paula Tavares é angolana, e na nossa busca por referências para compor nossa África imagética e não-folclórica tão desejada, vasculhamos a produção de poetas africanos antigos e contemporâneos. 

É importante que se diga: produz-se muita coisa linda & poderosa & forte naquele continente, tido por nós ainda como lugar muito distante desta terra brasilis. Entre tudo que lemos, a poesia Estrangeiro daquela poeta me marcou fundo; Buranga interpretando seus versos durante o espetáculo era para mim o momento mais emocionante da peça. Mais de uma vez eu chorei ouvindo aquelas palavras, que se misturavam em dado momento às palavras do próprio Buranga, ele mesmo um estrangeiro, exilado de sua terra por falta de opção. 

Aquela forma de vazio total, da ausência completa de caminhos para dentro de casa, que invariavelmente lança para muito longe de tudo o que conhecemos como nosso.

Simplesmente lindo.



ESTRANGEIRO

Estrangeiro,
teus passos alargam o fosso
em volta do cercado da casa antiga
está aceso o fogo
nos sítios do costume
e tu moves-te por dentro do frio
estrangeiro,
o pano branco na tua cabeça
anuncia a morte
de minha alma gêmea
meu irmão meu noivo
o filho muito amado de sua mãe
o que portava no peito
o colar de missangas
e fios de meu cabelo
estrangeiro,
a tua voz
é um ruído surdo
um murmúrio atento
estrangeiro,
com a tua presença
a minha dança não correu
a manteiga passou
o leite cresceu azedo pelo chão
a vaca mansa de estrela na testa
não entrou no sambo
a bezerra pequena varreu a noite de gritos
estrangeiro
ontem não nasceu ninguém de ehumbo
e a lua estava alta e nova
o velho que sofre
não conseguiu morrer
estrangeiro,
afasta de mim
teus passos perdidos
e a maldição.