JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Da série SEGREDOS E SUSSURROS: Cassandra, Morfeu, Isabela

Eu tenho um pouco de medo das coisas que eu digo. E, mais ainda; há coisas que enquanto eu as estou dizendo eu já recebo um 'informe mental' me dizendo que terei de desdizê-las em seguida. Como se minhas profecias fossem impronunciáveis, bastando afirmá-las para elas se desfazerem.

(É fogo quando se tem pessoas queridas por perto, com quem você deseja partilhar as coisas, segredos, descobertas, planos, sensações, mas não pode porque sabe que essas mesmas coisas irão se desfazer no momento em que você as pega com os dedos para mostrar ao outro. Vidências feitas de bolha de sabão; assim são as minhas.)

E tenho uma droga de intuição lascada de forte, ou de leitura do ambiente, ou do que quer que seja. E sei, de olhar para alguém que amo, quando perdi a pessoa. Quando errei em algum lugar. O 'x' é que nunca sei qual é exatamente 'o' lugar, mas sempre sei se algo partiu.

Mas, novidade da semana, agora meus sonhos (aqueles mesmo que semana passada eu afirmava que nada me diziam) me mandaram um recado hoje. Uma mulher me enviava uma carta em sonho. Na hora não consegui ler o conteúdo, mas sabia bem a função daqueles escritos: eram um guia de leitura para uma situação, por assim dizer. 

Eu o aceitei, o entendi, mas  de nada me serve. Simplesmente não posso compartilhar aquelas informações com mais ninguém. Afinal, foi recado enviado na forma de sonho, e ninguém vai pra frente de um Juiz dizer: "Ô, Meretíssimo, a minha testemunha ocular neste processo é Morfeu." Simplesmente não pode.

Aí eu tenho vontade de bater a cabeça na parede, porque eu já sei, já senti, já entendi, mas sem as tais 'provas' concretas a gente não tem direito nem mesmo a pedir abertura de discussão. Só que minha experiência já me mostrou inúmeras vezes determinadas situações, e só pela aparência dos sujeitos envolvidos eu já reconheço o roteiro inteiro.

No meu roteiro há um Deus, uma carta, uma mulher que vai partir, muitos sentimentos, e algumas ausências significativas. Palavras que não vêm e deixam crateras abertas no peito da gente. Mas (essa é a parte mais dura) há algumas pessoas do lado de fora do lar do herói, sem rosto, mas bem, bem visíveis. Eu já sei o que vai acontecer com os personagens, eu sei. Mas não adianta de nada eu contar para o espectador da poltrona ao lado, porque ele insiste em deixar o filme correr para ver, pelos seus próprios olhos, o final trágico.

(...)

Como nos mitos gregos, os arquétipos nunca mudam. E as tramas se sucedem, iguaizinhas, desde que o mundo é mundo. Mas os outros espectadores precisam viver sua própria catarse. Através do meu Drama, o que é pior.

Então que venham o sangue, o choro, o grito, a força, o furacão, a tristeza, a avalanche, as precipitações trágicas todas. A mim, silenciosa Cassandra que virei, só resta me recolher junto a minha vidência.

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