JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Da série GRANDES QUESTÕES DA HUMANIDADE: Escoamento

Algumas certezas nunca me abandonam. Determinadas dúvidas também.

Uma coisa que volta e meia me pergunto é se eu nutro ou desnutro uma coisa quando eu falo sobre ela. Nunca sei se devo ou não emanar pensamentos para as coisas que desejo, e isso de fato me consome.

Como eu sempre penso/falo/ajo demais, termino por aqui, já para bloquear o pensamento que insiste em escoar do meu pobre crânio.

Sem mais.

domingo, 19 de agosto de 2012

Da série GRANDES QUESTÕES DA HUMANIDADE: Quereres em flor

Eu aprendi a pedir. Desde pequena eu sou uma pequena pidona, dessas que sabem exatamente o que querem (e descobri como fazer meu desejo soar de maneira mais branda aos ouvidos de quem escuta). E pedia claramente o que eu queria de aniversário, acompanhava meus pais no mercado para pedir-lhes caprichos in loco, assuntava com o irmão para ele me dar um pedacinho da sobremesa dele, apontava com dedo em riste os meus quereres momentâneos. E, como querer não é poder, eu precisei aprender também desde cedo que ao encontro da pergunta sempre vem uma resposta e muitas vezes ela não é a que queremos escutar. E aos tantos quereres meus, muitos nãos alheios se apresentaram, e com uma fome do tamanho do Alabama dentro do peito não haveria eu de chegar viva à vida adulta se eu não aprendesse cedo a ouvir negativas aos meus pedidos.

E aprendi isso também.

Então, vendo algumas pessoas expressarem mal seus desejos e suas dificuldades de negociá-los, eu sempre penso em como eu mesma lido com as coisas. Ao contrário de algumas amigas que pensam que se expor menos é o caminho para se machucar menos, eu acho que se expor mais é o caminho para fortalecer-se diante de todas as quedas que nossos desejos vão nos dar. A prudência é parceira dos sábios, isto é certo, mas o medo das frustrações é conselheiro preguiçoso que termina por embotar a nossa vontade. 

Eu não quero ter uma vontade embotada, eu quero é ter uma vontade florescida e olorosa, gigante e cheia de poder, por isso preciso nutri-la bem. Mas se é necessário dar alimento para a planta crescer é igualmente importante fazer-lhe a poda para que ela não domine todo o canteiro e esgote a terra que a sustenta. Nutrir e podar; combinação prática de ações que tenho aplicado à torrente diária de quereres que me move. Cada vez que alguém tem medo de pedir ou espera que o outro lhe adivinhe as vontades ou tenta impor-se por receio de não ter o desejado ou culpa ao mundo pelo objetivo que não alcançou, cada vezinha que isso acontece eu tenho vontade de estapear a pessoa e berrar-lhe na cara: Pára!

Porque o mundo preexiste a nossos anseios e corre a largo deles, então concentrar-se no lado de dentro é o primeiro passo para chegar aonde a gente quer. O mundo está aí, numa existência completamente alheia ao que nos é importante; galopemos então sobre nossas vontades ao invés de esperar que alguém puxe nossa carroça. Eu faço muuuuuuuuuuuuuuuita coisa por mim mesma porque eu estou convencida de que a existência não está nem aí pra mim. Então, eu que não me molde não aos acontecimentos pra ver se não parto em duas na primeira tempestade...

Na minha loucura cotidiana vejo um fato: o MUNDO não está se importando com minhas dores e vontades, então para fazê-las audíveis é preciso gritar alto. E eu grito!

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Da série GRANDES SABERES DA HUMANIDADE: Aritmética

A matemática é simples: eu demiti todo o elenco, porque nenhum deles correspondia à minha concepção do personagem. Agora não tenho ninguém e o espaço vazio no palco me incomoda.

vários - vários = zero

(Então porque a angústia?)

Não é nem que eles não fossem bons, não tivessem seus méritos, não estivessem se esforçando lá ao modo deles... mas a verdade é que eu queria explosões shakesperianas e eles me ofereciam uma interpretação com ares de Malhação. Eu amo o desvario, a Loucura, amo as tragédias, as falhas e precipitações que se abatem sobre o herói mas os atores que eu escolhera estavam preocupados demais com o penteado ou a hora que partia o último ônibus, e isso me dava uma certa agonia.

Uma das coisas mais lindas que eu acho no mundo é gente concentrada. Talvez porque eu seja uma tonta-multi-foco-diletante por natureza, eu simplesmente babo por qualquer pessoa que esteja efetivamente imersa no fazer de alguma coisa. Qualquer coisa, e por vezes os fazeres mais mecânicos são os que mais me geram suspiros de admiração. E lhes faltava isso, não por escolha, mas por alguma falha inata. Não havia nada a fazer que não aceitar o erro.

Mas eu insisti, porque eu sempre insisto de alguma maneira.

Só que vendo os olhares preocupados em consultar o relógio a cada novo ensaio, aquele ar distante de quem não sabia bem como responder aos seus próprios impulsos de criação, aquele aparvalhamento, eis que eu me desinteressei sinceramente. E perdi de fato a paciência, porque o tom errado da voz durante cada diálogo, a eterna intenção mal escolhida pro texto, a falta de entendimento da coisa toda me deu uma chateação que não tinha mais fim. E explica, re-explica, desenha, demonstra, faz no lugar do outro, repete e re-repete, eu cheguei à conclusão que nem a mais sólida vontade poderia modificar a verdade: era o elenco errado para a peça certa.

Agora o palco está vazio. E, no teatro, uma das coisas mais difíceis certamente seja acolher o silêncio e apenas encarar a ausência. Sem música, sem paliativos, sem substitutos, sem galãs-enlatados, sem truques fajutos; agora é o momento de voltar à sala de ensaio e re-conceber os desejos. O passo seguinte é apurar o olhar e procurar os novos integrantes desse elenco, que talvez possa ser feito de um, uma ou vários novamente. Nenhuma resposta é relevante neste momento, porque ainda é hora de fazer as boas perguntas. Em breve eu publico no mural a lista dos novos selecionados.

Por enquanto, repito-me o mantra recém aprendido: às vezes o mais difícil a fazer é não fazer nada.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Da série PALAVRAS AO VENTO: Fluffy soul

Eu sou um animal feito para o afeto. Maciez de pele, de pêlos, de couro. E se não tem afago, algo se fecha como concha maciça, que engole a parte mais mole do bicho.

Loucura. Já tinha falado e digo de novo: estou sentindo falta de usar meu corpo e não apenas a minha cabeça.

Processo de mudança profunda se anunciando nas sirenes da fábrica interna das loucuras.

E nada mais precisa ser dito.

Da série CONEXÕES: Na verdade

Cheguei de viagem, depois de mais de 2mil quilômetros percorridos em mais de 36 horas de sacolejo dentro de ônibus, carro, van, avião, e estou mais contente do que cansada. O saldo é efetivamente positivo, ainda que a montanha de demandas acumuladas me cause desespero tanto que até minha sanidade seja posta em dúvida.

Muchochos à parte, a verdade é eu adoro quando as conexões existem mundo afora. Talvez estar em contato seja a coisa que eu mais goste na vida toda, sabe...

(...)

Desses contatos surgiu esse presente, que ganhamos da linda Ana Luiza, de lá de Maceió, através de uma cena muito delicada construída na nossa oficina. Gostei tanto de tudo que ela mandou a letra por e-mail, como um pombo correio poético que traz no bico uma colherada de açúcar para adoçar a rotina.

Obrigada, querida. Obrigada, queridos e queridas todos, que estavam dentro, fora, ao lado, em cima e sempre por perto, fazendo tudo mais significativo e divertido. Eia!


Eu Não Sei Na Verdade Quem Eu Sou
(Teatro Mágico)

Eu não sei na verdade quem eu sou
já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou
Por que a gente é desse jeito?
criando conceito pra tudo que restou

Meninas são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro

Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso
E o meu paraíso é onde estou
Eu não sei... na verdade quem eu sou

Descobrir
Da onde veio a vida
por onde entrei
Deve haver uma saída
mas tudo fica sustentado
Pela fé
Na verdade ninguém
Sabe o que é
Velhinhos são crianças nascidas faz tempo
com água e farinha colo figurinha e foto em documento
Escola! É onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração

Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
E sempre encontro sorriso... e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei na verdade quem eu sou

Perceber que a cada minuto
tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
tem gente rezando no escuro, tem gente sentindo ausência

Meninas são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que guardo dentro do meu travesseiro

Mas eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou

Eu não sei na verdade quem eu sou...