JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

sábado, 16 de julho de 2011

Da série SEGREDOS E SUSSURROS: Rotas de navegação

Por que eu me imponho tantos desafios se eu sei que sinto medo? E eu temo tantas coisas. Eu tenho medo de quebrar os dentes, de ficar só, de baratas, de mentiras internas, de enlouquecer, de engordar, de não entender, de entender mais do que todo mundo, de ficar doente demais e não poder me cuidar. É; sobretudo de não saber cuidar bem de mim. 
Eu sinto muito medo, muito medo de me abandonar...
Ai, como eu alimento lugares duros de enfrentar. E como eu me lanço justamente nos lugares mais nebulosos e mais difíceis para esta alminha aquebrantada aqui.
(...)
Então, por que eu faço isso? Porque tanta sanha de caminhar por onde não conheço? Por quê?
São todos os desafios que meus braços alcançam, sempre e toda vez. Escolho cada um deles. Cada sugestão de suores, cicatrizes, superação, tudo isso me atrai como um felino diante de sangue fresco. (Saudações póstumas aos meus ancestrais desbravadores, que nem mesmo diante dos oceanos desconhecidos sugerindo a beira do mundo e uma queda infinita, temeram a imensidão do desafio de se reconhecerem num universo inexplorado.)
Me forjei a ferro quente, e amo os cortes profundos porque suas marcas servem de lembrete de minha força. Guerreira em algum lugar, sim, mas aprisionada em sonhos menores do que uma casa de bonecas branca e rosa.
O que temer então, se não me amedronta nem a perspectiva de perder partes do que sou?
Eu sou viciada em me superar, em me desfazer e recriar. Continuidade não é o meu forte, só se for na insistência da necessidade do salto. Moto-contínuo de testes, loopings, quedas, lançamentos, exaustões. Não aprendi a ficar em um só lugar e tampouco prestei atenção às lições de vôo. Minhas cartas de navegação são somente coisas coloridas, retas embaralhadas de expectativas e desejo. Estrela que reflete o mar que reflete a estrela. Me perder na escrita e na ação.
Quantas vezes a gente também não se comporta como coelhos, pegando caminhos que nos levam a lugar nenhum apenas por dar ouvidos demais à gente que está do lado de fora do nosso jogo?
O que eu quero afinal? O que temer, enfim? E, diabos!, para onde estou indo com esta certeza quase febril? Aonde?
Talvez mais do que a nova morte, eu tema a perspectiva de me perder de mim mesma. Talvez seja isso que vem gerando tanta e tanta água em meus pensamentos...

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