JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tem uma coisa que o tempo nos ensina: a respirar.
Não adianta, se você deseja algo, gritar para acelerar, se jogar no chão para impedir. Tem coisas que simplesmente são.

Com o amor é engraçado: fingir que se saiu dele quando ele ainda está em si é perda de tempo. Das maiores, mais graves e mais sofridas. Tem que esperar ele ir (se é que um dia ele vai mesmo de todo....)

Aprendi a ficar enquanto é importante. E respiro. Tenho aprendido a respirar profundamente...

O problema é quando o outro nos coloca em sobressalto por algum motivo, de maneira corrente e irrecorrível. Só para nos ver engasgar com a pobre tranquilidade consquistada a duras penas.


domingo, 19 de junho de 2011

Da série SEGREDOS E SUSSURROS: Lobo em pele de carneiro

Eu sou difícil. Sim. E sou uma pessoa difícil. Mas posso ser difííííííííííííííícil como poucas, com vogais sofridas que se repetem ad infinitum.

Mas (porque em se tratando de confissões é sempre bom ter um 'mas'), eu sei ser uma fofa. Transtornantemente agradável. A rainha da festa, a alegria dos convidados, a mais gentil, a mais doce, a mais atenciosa, a mais engraçada, a mais delicada, a mais solícita. Se eu escolher ligar o meu botão da doçura, os incautos não poderão resistir. As palavras são sempre as certas, as entonações as mais adequadas, os elogios corretamente dimensionados. Tu-di-nho no lugar.

(...)

Em momentos assim desconfie. Desconfie severamente - é a minha única advertência. Porque me vestir com as peles mais palatáveis do guarda-roupa é uma declaração de desconforto de minha parte. A velha técnica de me prémoldar ao contexto para que não me desejem moldar de fora pra dentro. Por medo de ser modificada por coisas nas quais não acredito, não aposto, não gosto eu me disfarço de igual. Para não deixar de ser diferente.


Somente aos amigos, aos bem-vindos, aos amados eu apresento minhas vísceras. Desagradáveis, pulsantes e irremediavelmente sinceras. Somente para vocês, amigos, eu mostro meu avesso.


Aos demais, meu melhor sorriso, piadas pré-fabricadas, entonações perfeitas, desempenho impecável. Nada de conversas para além da cena. Nada de beijinhos trocados no camarim ou cabelos molhados à saída da apresentação. Nada. Somente a distância da admiração controlada.


Pois somente aos que não amo é que eu reservo os cortes da Isabela hermeticamente bem embalada. Por isso eu peço: aceite meu sangue e ossos e peles e nervos como a mais sincera das declarações de amizade. Porque é isso que de fato eu sou.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Da série SOLTEM OS FOGOS: Mais um

Pronto que defendi meu mestrado ontem e virei MESTRA! 

Nem entendo muito bem o que fazer com essa situação, mas sei que é bom, que estou mais leve, que me liberei com êxito de um compromisso importante, que não posso parar e que tenho reunião daqui a pouco sobre outros assuntos.

Tô bem feliz, porque foi o melhor que poderia ser, cheio de amigos, banca generosa, artistas colaboradores lindos e tudo curtido com prazer.

Eia! Que venham os novos vales de caminhada.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Da série SEGREDOS E SUSSURROS: Cassandra, Morfeu, Isabela

Eu tenho um pouco de medo das coisas que eu digo. E, mais ainda; há coisas que enquanto eu as estou dizendo eu já recebo um 'informe mental' me dizendo que terei de desdizê-las em seguida. Como se minhas profecias fossem impronunciáveis, bastando afirmá-las para elas se desfazerem.

(É fogo quando se tem pessoas queridas por perto, com quem você deseja partilhar as coisas, segredos, descobertas, planos, sensações, mas não pode porque sabe que essas mesmas coisas irão se desfazer no momento em que você as pega com os dedos para mostrar ao outro. Vidências feitas de bolha de sabão; assim são as minhas.)

E tenho uma droga de intuição lascada de forte, ou de leitura do ambiente, ou do que quer que seja. E sei, de olhar para alguém que amo, quando perdi a pessoa. Quando errei em algum lugar. O 'x' é que nunca sei qual é exatamente 'o' lugar, mas sempre sei se algo partiu.

Mas, novidade da semana, agora meus sonhos (aqueles mesmo que semana passada eu afirmava que nada me diziam) me mandaram um recado hoje. Uma mulher me enviava uma carta em sonho. Na hora não consegui ler o conteúdo, mas sabia bem a função daqueles escritos: eram um guia de leitura para uma situação, por assim dizer. 

Eu o aceitei, o entendi, mas  de nada me serve. Simplesmente não posso compartilhar aquelas informações com mais ninguém. Afinal, foi recado enviado na forma de sonho, e ninguém vai pra frente de um Juiz dizer: "Ô, Meretíssimo, a minha testemunha ocular neste processo é Morfeu." Simplesmente não pode.

Aí eu tenho vontade de bater a cabeça na parede, porque eu já sei, já senti, já entendi, mas sem as tais 'provas' concretas a gente não tem direito nem mesmo a pedir abertura de discussão. Só que minha experiência já me mostrou inúmeras vezes determinadas situações, e só pela aparência dos sujeitos envolvidos eu já reconheço o roteiro inteiro.

No meu roteiro há um Deus, uma carta, uma mulher que vai partir, muitos sentimentos, e algumas ausências significativas. Palavras que não vêm e deixam crateras abertas no peito da gente. Mas (essa é a parte mais dura) há algumas pessoas do lado de fora do lar do herói, sem rosto, mas bem, bem visíveis. Eu já sei o que vai acontecer com os personagens, eu sei. Mas não adianta de nada eu contar para o espectador da poltrona ao lado, porque ele insiste em deixar o filme correr para ver, pelos seus próprios olhos, o final trágico.

(...)

Como nos mitos gregos, os arquétipos nunca mudam. E as tramas se sucedem, iguaizinhas, desde que o mundo é mundo. Mas os outros espectadores precisam viver sua própria catarse. Através do meu Drama, o que é pior.

Então que venham o sangue, o choro, o grito, a força, o furacão, a tristeza, a avalanche, as precipitações trágicas todas. A mim, silenciosa Cassandra que virei, só resta me recolher junto a minha vidência.