JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Da série CONFISSÕES E SUSSURROS: Jogo dos 7 erros

Quando me percebi virada do avesso, retornei à casa que me fazia em equilíbrio. Os braços que me orientam a cabeça e desorientam as pernas estavam novamente possíveis de se alcançar. (Não sei como pude tentar convencer alguém de que eles eram outra coisa minha...) E era isso que eu tanto queria, não fosse pela sensação de que alguma coisa tinha mudado na paisagem.


Pega pedaço, cola pedaço, atenta os ouvidos, pára, analisa. Quase desistindo, cercada de amor, eis que "Bingo!". Mirando seus olhos de água eu entendi: ela sentia despeito. E era todinho pra mim... Foi preciso então redirecionar em instantes as flechas antes miradas para um reino inocente. Ainda tentei calar, mas...


(...)

Flecha, bomba, tsunami, furacão! Expulsa daquela casa por causa de meus gritos, eu retorno e me deparo com o silêncio de meu lar. Eis que está aí, no não-falar, não-perguntar e não-sentir o único caminho possível de salvar a imensidão de sorrisos que só ali posso ter.


Angustiada, me aquieto.


(...)


(...)


Pois que dia(s) depois, litros depois, dores depois, urros surdos depois eu pergunto: o que afinal eu quero?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Da série POESIA BARATA: Dezesseis de fevereiro de dois mil e onze

1.
Vontade de escrever depois de ler as palavras da amiga. Mas a visão do desenrolar o novelo cuidadosamente organizado é devoradora e interrompe meu gesto no ar. (...) Medo de me ver de novo emaranhada num oceano de idéias paralisantes.

2.
Porque eu disse 'Volta!' cheguei até aqui. Então sorrir é quase uma lei, agradecendo ao universo pela presteza no cuidar de meus desejos mais íntimos. Feliz 4ª feira para você também!

3.
Garcia, Acre, Calgary, Soho, Humaitá, Miraflores, São Paulo, Paris, Botsuana, Londrina. 
Entrada, saída, esconderijo e fuga. Preparar, apontar...

4.
Fiquem por perto para servirem de escudo para as palavras que lanço. 
(Reverber que cura MODE ON)

5. 
O que eu enterrei na parte de trás de minha cabeça para não entender? O que gesto e alimento com meus fluidos? O que escolhi? (...) Quem tiver a resposta, favor enviar para grandesquestoesdahumanidade@gmail.com

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E tenho dito!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Da série CONFISSÕES E SUSSURROS: Compartilhamentos

Tá... eu me viro bem sozinha. Na verdade me viro muito bem, até melhor do que se ficarem ao meu lado me ajudando. E eu gosto dessa independência toda sim. Na verdade eu me orgulho dela, adoro, me regozijo, me parabenizo, a nutro continuamente.

As batalhas podem ser solitárias, mesmo, numa boa. Não sofro por me degladiar com minhas hidras tout seul. Mas retornar para casa com suas cabeças em punho e não ter com quem compartilhar essa vitória, isso cansa...

A verdade desnuda é que preciso de companhia nos momentos de colher os louros. Sem isso a vitória ganha ares de placebo.  Nas corridas pelos campos repletos de incertezas, prefiro a tranquila irresponsabilidade de responder somente por meus machucados. Isso me dá leveza, agilidade, elimina negociações, concessões, preocupações e afins. Acordar na hora escolhida e seguir os planos traçados me possibilita uma alegria que não encontro em quase nenhuma outra coisa que conheço. Agora, não ter para quem enviar o meu melhor sorriso na hora em que recebo o cetro e a coroa pelo reino recém-consquistado, isso esvazia todo meu recheio de coragens.

Eu precisava dizer isso. Quero vencer-me, mas não suporto me ver sozinha nos momentos de felicidade. E sinto que eles se aproximam a passos largos... Amigos, fiquem por perto para compartilharmos as horas boas! 

(...) 
Isso vale para você também, moço-bonito...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Da série PEQUENAS AÇÕES CONCRETAS: Racismo na Farmácia Santana

Conforme carta aberta que compartilhei ontem em meu facebook, uma amiga minha muito querida foi vítima de uma horrível situação de racismo na Farmácia Santana da Graça. Basicamente, após ela entrar na loja e sair sem comprar nada, o segurança a seguiu por cerca de 1/2 quilômetro e a mandou abrir a bolsa, porque supostamente ela teria roubado algo na loja. Obviamente ela não tinha pegado coisa alguma, e o cara justificou a sua desconfiança com o fato de ela ser 'de cor' (!!!). Ela, mesmo assustada, deu queixa na loja com a gerência, no Ministério Público e abriu um processo que acaba de ser arquivado porque a Santana deu um fim no sujeito.

Simples assim.

(...)

O que eu, você, minha mãe, sua prima, professores e cunhados podem fazer diante disso?

Não comprar mais nessa empresa, a não ser que você considere justo uma cidadã correta ser acusada de forma tão leviana, ameaçando não apenas sua tranquilidade como sua própria segurança. Porque, de fato, nada 'pior' ocorreu, porque ela simplesmente não tinha nada na bolsa que tivesse sido comprado na referida farmácia. Mas, e se tivesse? Seria presa, provalvemente, simplesmente pela combinação de fatores racismo + omissão + falta de treinamento. 

Eu, assim como não quero direta ou indiretamente colaborar para a exploração de escravos lá em Sergipe pela empresa Maratá (leia aqui para entender), nem de crianças pela tal da Nike (mãos de criança, mesmo escravas, são melhores para costurar seu tênis, bolas e chuteiras!!!), também não posso dar lucro para uma empresa que vai na contramão de tudo que eu acredito. Porque é o que eu, consumidora, posso fazer de mais simples e, acredite, e-fe-ti-vo. Porque é sim, muito efetivo! Essa é a lei de mercado: ou você vende, ou você quebra. Se você compra de uma empresa, ela cresce ajudada pela sua grana. Tem mil e uma farmácias concorrentes por aí e não quero que uma empresa que não apenas compactua com formas de pensamento excludentes (a gerente hoje simplesmente mente dizendo que nunca aconteceu essa situação...) e muito, muito perigosas para os cidadãos que não 'se adequam' a um suposto modelo. Eu posso até estar mais ou menos dentro do 'modelo' para alguns olhos, mas me recuso a basear minha convivência com meus pares em privilégios de raça/gênero/condição social/insira.aqui.o.seu.critério.de.exclusão.

É isso. Assim como você não almoça McDonalds todos os dias (pelo menos eu espero que vc não faça isso... rs) porque sabe que faz mal pro seu organismo, nem rouba coisas no mercado porque sabe que são de uma outra pessoa que não você, ou, por fim, não toca fogo em mendigos porque acredita que eles sejam inferiores, eu apelo aqui para sua boa consciência para fazer a sua parte em não perpetuar essa merda de desiguldade de condições que mina nossa paz nos mais diversos níveis.

Deixar passar essa chance, ainda que muito pontual, de reduzir as diferenças de tratamento entre nossos pares é esquecer que tudo não passa de uma grande cadeia, onde uma coisa influencia a outra, terminando por transformar nossas omissões cotidianas em nosso mais ferrenho algoz alguns passos a frente.

Para saber mais! http://umabadapracadadia2.zip.net/arch2011-02-06_2011-02-12.html#2011_02-07_20_14_43-135954919-0

Divulgue! E escolha uma outra farmácia mais confiável para depositar seu rico dinheirinho, que não a Farmácia Santana.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Da série MENSAGEM NA GARRAFA: Já que você vem aqui...

Depois de uma dessas noites em que você ruma de um lugar para outro sem encontrar o seu, eis que veio como uma enxurrada todo o choro guardado desde o mais tênue desenlace. Rigor desfeito, carnes moles, perdida como poucas vezes, deixei que o desespero tomasse conta e multiplicasse as tentativas de solução no teclado do celular. (Pathos... por quê não?) E como nessas vezes em que a luz se acende e você pode enfim se localizar no espaço, eis que me veio um tufão de verdade e coragem para deixar cair as amarras do orgulho. (...) Obrigada por ter entendido isso e me brindado com carinho e palavras tranquilas. Sem rumo ainda, eu então sigo, Só que agora bem mais calma e com alguma serenidade enfim.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Da série VIVER NA BAHIA: Rainha do mar


Eu gosto mesmo de Iemanjá. Seja lá como esteja grafado seu nome, eu tenho imensa simpatia e crença nessa moça de espelho na mão, caprichosa e que tem, apenas, o mar inteirinho como morada. Chiquê pouco é pros fracos, afinal... rsrs

Na verdade, moça de criação católica que sou, fui cunhada sob a hégide da culpa, do castigo, do merecimento, da angústia, do temor. 

Demorei demais a entender a simplória mas tão poderosa lógica do 'aqui se faz, aqui se paga'. Essa idéia de que o que você planta é o que você colhe, com as devidas alterações de cor&formato, os imprevistos ruins e as surpresas positivas que naturalmente estão embutidas nessa aventura do 'se estar aqui'. Então eu tento, acima de qualquer coisa, ser justa comigo e com o mundo. J.u.s.t.a., nada mais do que isso - até porque já é bastante coisa! 

Isso porque morro de medo (olha aí o medo de novo, minha gente!) de ser punida (Foucault explica outra vez) pelo Universo por minhas injustiças. O terror que amparo em meu coração desde que me entendo por gente detém lógica tão simples que nem carece de um gráfico: se viver já é tão duro e estou eu fazendo tudo direitinho, eu não preciso de punições do cosmos. Meu medo é que na hora de retirar minhas benéfices lá no guichê dos que crêem no trabalho e no amor, a mocinha aqui, munida de sua guia comprobatória de anos de construção/ação/investimento/coragem, seja supreendida por uns descontos de má-sorte graças às injustiças feitas ao mundo e a seus pares. Ser injustamente remunerada aquém do investimento, simplesmente por ter se valido de injustiças para tomar mais do que lhe era de direito.

(...)

Sempre lembro de duas pessoas muitos amadas, um amigo e um ex-companheiro, responsáveis por iluminar minha mente em momentos de desespero e incapacidade de ação. O primeiro me lembrou apenas: Seus resultados serão sempre proporcionais a seus esforços. Essa frase simples foi a catapulta de coragem para a criação de meu solo, unicamente porque me livrei dos fantasmas de que não era habilitada para fazer aquilo (...e 5 anos estudando teatro na Universidade foi pra quê, maluca?) e da obrigação de um resultado genial. 

Já o segundo moço - pessoa que considero de sucesso por dentro e por fora - fazia ecoar em nossa casa a máxima: Eu só quero o que é meu. Nem mais, nem menos. Mas apenas o dele por direito. (...) Libertador assim...

Aí que retorno à Iemanjá; eu sempre a saúdo quando entro no mar, quando vira o ano, no seu dia... E peço trocentas mil desculpas quando furo com ela e, se for o caso, mesmo com meses de atraso eu a cumprimento pela data festiva perdida. Agradeço, pergunto, me equilibro. E peço. Muitas coisas... Cada vez com mais cuidado, porque ela é moça danada e me deu absolutamente tudo que pedi. Ainda que seja um ato totalmente haribô por essência, entendo essa potência muito menos como que uma ação mágica a mudar meu destino do que se poderia pensar de início; a clara sensação que tenho é que a mistura de grandeza, água, sal e movimento me desanuvia o pensamento e me faz enxergar o melhor caminho que já está aqui dentro mas ainda não conseguia acessar. E isso já basta.

(Quando morava na Pituba perdi as contas das vezes que peguei o ônibus que passava pela orla simplesmente para dar um alô para a moça e me reestruturar internamente...)

É por isso que daqui a pouco vou ali cumprimentá-la. Mais do que pela festa, as pessoas, a bagunça: por ela. Porque lhe devo um monte de respostas encontradas. (Dicas de melhor aproveitamento de minha matéria mais secreta, aquela alocada no fundo de minhas profundezas e içada à superfície num golpe de clareza da mente.) Devo isso a ela e não posso deixar de lhe dizer. A gratidão é outra dessas lógicas que tenho aprendido e rendido homenagens a cada novo dia.

Vou ali pedir a benção e me iluminar por dentro por mais um período. E aí que lembro de um outro homem muito importante na minha vida, a me dizer num momento de profunda confusão: Todas as soluções estão aí dentro, basta encontrá-las. Mas somente quando cessam as perguntas é que as respostas se apresentam.

Odoyá!