JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

domingo, 21 de agosto de 2011

Da série MENSAGEM NA GARRAFA: Brasa nos pés

O desejo de me encontrar é tanto que sinto receio em escrever. Temo abrir a porta e sentir as palavras saírem em fúria, loucos ventos derrubando tudo o que havia de certeza até ontem, palavras preenchendo a tranquilidade dos dias. 
Sim. Eu sinto medo. 
Mas é tanto medo que não permite nem que eu fique em silêncio, nem que eu pare um segundo, nem que eu me lance sobre a lâmina. É medo tamanho que modifica a estrutura do corpo e é preciso mudar de posição de novo e de novo e de novo pra se ajustar a ele. 
Medo que é brasa nos pés, calo entre os dedos, afta no céu da boca, queimadura na pele, bolhas nas mãos.
Coisa que não se permite ignorar. Terror que GRITA - porque o silêncio é sua morte e isso ele não permite. Tem-se de modificar o olhar, alterar os cheiros, mudar a cor dos dias para mais claro ou verde ou opaco, depende do humor.
(...)
Ai. A vontade de dormir retorna e já não me lembro sequer onde fica o quarto de cortinas pesadas para meus olhos acalmarem. E desta vez, deste lado, não há tranquilizações ou cafunés ou histórias contadas para empurrar porta afora o eco da noite que por vezes dá paúra de verdade. Desta vez é jogo de menina-crescida e só há a mão direita pra a apertar a esquerda e vice versa. Sabe isso?
A brincadeira foi ficando mais séria e em algum momento deixou de ser divertida, ora pois. Eu não queria nada disso, talvez seja a mais simples verdade.
(...)
Eu não queria ceder às palavras, senhor, eu tinha te dito antes, não? 

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