JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Da série CHEGADAS E PARTIDAS: Farewell feelings


Quando eu anunciei a minha primeira partida, os meus novos colegas já começaram a gemer de desagrado. Don't go, Isabela! Após repetir isso inúmeras vezes para os afetos que se iam, seria a minha vez de escutar isso com sotaques suíços, paulistas, ucranianos, coreanos e tantos outros mais....

Mas nunca subestime minha capacidade de ser louca, e na primeira semana de aula no último nível eu descobri que eu teria 1 semana a mais do que eu inicialmente previra. Louca, louca, louca, a brasileirinha que sequer sabia que dia teria de partir viu todos os afetos re-sorrirem satisfeitos porque ainda nos restariam alguns dias.

Ainda assim, na 4ª feira da semana que seria a da partida, TODOS estavam na minha despedida, no tradicional bar de chicken wings. Mil fotos, declarações e bons votos, eu me sentia abraçada e muito amada por todos aqueles que, passo a passo, tinham aprendido a gostar de mim como eu gostava deles.

Esta foi minha despedida nº 1!

Na 6ª feira tínhamos uma festa na casa da minha-doce-Tia-ucraniana e do Rei-de-todos-os-reis-paquistanês para o que seria minha real despedida. A festa estava marcada e, mesmo depois de descobrir que aquele não seria meu último dia, não desmarcamos o encontro. Caipirinhas mil para todos, receitas trocadas com uma nova querida turca, algum stress por conta de ciúmes masculinos, música brasileira tocando e uma noite deliciosa com amigos.

Esta foi mais uma despedida, a de nº 2.

Na semana seguinte era minha partida: passagens compradas para outros cantos do país, malas em vias de arrumar, coisas organizadas. E estavam lá meus amigos queridos, de novo, na 4ª feira, me dizendo com todo carinho palavras lindas em sotaques variados. E eu já chorava...

Esta foi minha despedida nº 3.

No dia seguinte, família canadense reunida em torno de uma mesa. A conversa fluente em inglês demonstrava que meu objetivo lá tinha sido cumprido. Alegria demais com as lindas gêmeas, com o casal bonito de pais zelosos, com a filha que me deu um presente lindo, com os meus hostparents que fizeram tudo ser tão mais simples e especial para mim. Foi uma noite muito, muito gostosa, e me senti querida por aqueles que me viram por ângulos tão diversos aos dos meus amigos.

E tive minha despedida nº 4.

A última 6ª feira foi um dia de ansiedade. Eu tinha feito brigadeiros para todos os meus colegas para dizer-lhes 'Obrigado' à brasileira. Fiquei tão feliz em vê-los contentes apesar da tristeza diante da escola cada vez mais vazia. Depois daquele que foi o meu teste final (boas notas de novo, eba!), milhões de abraços e registros daquele que seria meu último dia na escola. A professora, linda e elegante como sempre, decidiu que pagaria um café para todos meus colegas de sala para me dizerem tchau.


E tive minha despedida nº 5.

O restante do dia foi essencialmente de ansiedade. Não fossem os que me esperavam aqui, eu não teria conseguido dizer adeus para os que me cuidavam lá. Crise de euforia, desespero, joelhos e testa no chão, respiração cortada e um choro copioso sozinha no meu quarto; tudo amparado pelos amores baianos, auxiliados pela tecnologia que faz o mundo ficar menorzinho... Graças a Deus que existem tais meios, graças a Deus! Porque consegui me conter, me fazer bonita, abrir um lindo sorriso e ir encontrar meus amigos para uma noite dançante. 

México, Suíça, Japão e Brasil se encontraram para, ao ritmo eletrônico, nos dizermos até logo. Foi um pouco difícil (Thanks a lot, my Sweet-heart, because you were so cute and sensitive about my feelings...) mas a música ajudou a relaxar e depois de uma hora eu já era a Isabela de sempre. E vamos dançar! Até que os meninos chegaram e (deleite total!) dançamos juntos ao estilo árabe, cortando o salão e estalando as mãos. Ai, que delícia!

Dizer tchau para minha Sweetheart foi um tanto desesperador, e agradeço ao Monsieur que me segurou para eu não derreter. Lindo, lindo, lindo. Um pedacinho foi embora com minha Meli, mas eu fiquei mais forte pelo amor que construímos.

E findei minha despedida de nº 6.

No dia seguinte foi de carinho e descanso, com direito a ser levada em casa para arrumar as coisas. Se a viagem prevista não vingou devido à tempestade de neve inacreditável que atingiu a cidade, o restante do dia fez algumas pecinhas que estavam soltas voltarem ao lugar de origem. (I'll miss you, you know...)

Mas no meu último dia, em uma congelante manhã de domingo, tive meu dengo final, com um delicioso café-da-manhã na casa de minha doce-tia. Panquecas, suco, conversa, fotos e a certeza de que a amizade que construímos sobreviverá ao além-mar. Amor daqueles que bronqueia, que manda você se cuidar direito, que manda você ser feliz, sabe?!

E no C-train vi minha doce amiga partir enquanto eu fazia meu último esquilo sorrir, findando assim minha despedida nº 7.

Durante o resto do dia, briguei com a minha bagagem até não poder mais, enquanto dizia 'obrigado/adeus' a alguns amigos e repetia 'tô chegando' para outros. Uma moça atarefada de afetos, tentando dar um último abraço no irmão-mexicano que foi fiel parceiro desde o primeiro dia na cidade.

Tive de deixar esse abraço latino para outra ocasião, porque meu 'pai' tinha preparado o seu prato predileto para nosso último jantar especial. Comida boa, vinho delicioso, fotografias natalinas e presentes maravilhosos que me arrancaram lágrimas por todo o cuidado ali expresso. Ai.... como vou sentir falta deles.

E findei minha despedida de nº 7.

Mas faltava ele, o menino que preencheu minha cabeça por longos e longos dias. E, depois da mala arrumada, ele estava lá para nossa última noite multicultural com música, sheesha, dança e amigos. Obriguei ele a entrar e prometer ao meus 'pais' que eu estaria em casa no dia seguinte sã, salva e a tempo de pegar meu vôo. E ele, lindo como sempre, o fez e me levou embora para eu lhe dizer tchau decentemente.

E foi mais uma noite deliciosa como todas as outras naquela casa-da-diversão, rindo com os moços de sotaque engraçado, ganhando carinho do rei-das-noites e explicando para minha alma que minha lazy-easy-life estava de fato terminando. E depois daquela que certamente foi minha última noite com aquele moço de sorriso tão bonito, voltei para casa sem aceitar ainda o que estava deixando em Calgary.

E, sem um final oficial, vi terminar minha despedida de nº 8.

(...)

O choro incessante no aeroporto na manhã seguinte tinha motivo tão óbvio que a atendente que me ajudava logo entendeu:
- You're sad because you don't wanna leave Calgary, don't you?
- Yeah.. I got here an wonderful time and great feelings.
- I understand. But don't forget: our city will be ever over here, my honey...
- I know... Eu sei. Por isso mesmo que dia desses irei voltar.

I see you soon, Calgary!