JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Agradeço à presença de ontem que,
na leveza do que não sente culpas,
na frieza do descompromisso,
no sangue calmo que alimenta mas não consome,
me trouxe luz para eu poder me enxergar em meio à escuridão que o entorno oferecia.
(...)
Ufa. Que bom estar de volta!

terça-feira, 30 de março de 2010

Vontade 1.
Minha vontade não é de sair. Não é de pensar. Não é de estar aqui.
Vontade de me esconder do lado de dentro. Descolar a pele dos ossos, das juntas, dos músculos. Torná-la largo envelope de uma alma amassada, que no desencontro consigo mesma terminou nua no meio da larga avenida. Esqueci o ponto de referência e giro em círculos cada vez mais longos e dolorosos.
(...)

Segredo 2.
Chorei. Hoje chorei como não fazia desde o dia em que decidi cuidar de mim mesma sozinha. Arranhando a porta da vontade que não se abre para mim. Uivando a lua já distante, que não serve para qualquer coisa mais do que iluminar a minha melancolia. Preferia melancólica e na penumbra, mas até na tempestade meu recheio traz um rótulo auto-explicativo bem claro. Ironias...

Surto 3.
Eu escolhi. Busquei. Pedi. Fiz. Peguei na mão, só para ter certeza que minha dor é de não saber o que quero. Eu não sei. 
Pior! Eu creio que, em algum lugar bem remoto, eu traga todas as respostas e os planos de navegação de uma existência em eterno trâsito. Todas; que eu mesma teria escrito em longas madrugadas insones esquecidas logo após o nascer do dia seguinte. Acho que está tudo aqui, que tenho caminhado sobre elas, mas que eu desaprendi o idioma na qual estão escritas. Eu sei o caminho, mas não sei mais me orientar por seus guias. Eu sei ir, eu sei que sei, mas não acredito mais na memória. E a língua dos mapas&orientações me parece estranha agora, apesar de ter sido grafada com meu próprio punho. Como se nos instantes de lucidez eu corresse para registrar tudo, e o fizesse. E guardasse então as rotas com tamanho zelo para não as perder que, no momento em que me sento a alma na beira-da-estrada, eu desconhecesse os esconderijos por mim mesma inventados.
Eu queria ser de linha, de retas, de sólidos, de planos, de traço firme e não dessa droga de espuma flutuante que se desfaz ao som do vento. Dessa matéria que muda de cor, de forma, que se emaranha em si mesma, que se já é outra quando ainda nem entendeu a que se era antes.

Dor 4.
(...)

Grito 5.
Queria me descolar da minha pele. Queria largar esta existência aqui, sob meus pés. Amarrotá-la mesmo. Dispensá-la. Descartável. Queria poder começar de novo. Queria ser uma outra, a que fica e não a que vai. A que se finca e não se lança.
Queria querer de outros jeitos, com menos tinta. Queria uma para me guardar em meus sonos eternos de medo de tudo.Queria alguém que me olhasse dormir em mim mesma.
Queria pelo menos poder dormir aqui dentro, no calor do peito que poderia ser mais cálido.
Queria tanta coisa que desisto em mim. E eu sequer aprendi a fazer silêncio.

Eu preciso me dizer 'Pára!'. Mas no meu vocabulário só há 'corres', 'saltes', 'pules', 'lances'.
Pra onde vou agora?

Da série TELEGRAMAS DO MEIO DA TEMPESTADE: Casca e recheio

Que vontade de aprender a fazer um silêncio double-face...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Da série CONFISSÕES E SUSSURROS: Oroboro

Tá, tá bom, eu admito, Isabela: eu quero! M.e.s.m.o! Tô a fim, com vontade, com querência, com fixação, desejo, ânsia, gana, desejo... chame como quiser, querida. Eu quero sim - você pegou meu coração no flagra, droga!

Mas o meu querer é de matéria fluida, diáfana, embaçada, feito de neblina; nem se engane. Um querer o 'como-poderia-ser' e não o palpável 'como-já-se-é'. E admitir isso é o começo do fim, já vimos em capítulos anteriores, lembra?!

(Engraçado eu não ter vontade de dizer nada disso a ele...)

A cobra morde o rabo. E, assim, o meu tanto querer há de nos levar a um des-querer de verdade, não é mesmo?

E vamo que vamo!

domingo, 28 de março de 2010

Da série DIMINUINDO A IGNORÂNCIA: Sendo levada pela mão

Minhas lições de música delivery têm caminhado com relativa lentidão (por indisposições metafísicas do professor selecionado para este fim. Mas isso é uma outra história, para outro post.. rs). Ainda assim, alguns tesouros já recebidos até então têm tornado meus dias mais agradáveis.

David-extraterrestre, Caê e os moços-da-rainha ajudam minha ignorância musical reduzir dia após dia. Ufa...

O bem-estar atual é patrocinado por Gil&Jorge, através do CD homônimo, que é pura e completa gastação. Uma delícia, repleta de sonoridades que me fazem lembrar porque cargas d'água a minha geração ainda escuta as criações dos anos 60-70 com tanto ânimo.

A preferida, por som e imagem e poesia que traz, é Meu Glorioso São Cristóvão, que de tão linda me fez ir atrás da historiografia deste santo, que conduziu Jesus Cristo nos ombros numa cheia-de-significado travessia num rio. 

Ouvindo até o extâse, uma vez após a outra, para ver se garanto meu trânsito até o porto-seguro-da-felicidade-eterna.

PQP! Poesia pouca é bobagem!


Para nós, a letra:

Meu glorioso São Cristóvão

Meu glorioso mártir

Meu glorioso mártir

Portador de Cristo

Intercedei por nós

Nos flagelos terremotos

Incêndios inundações

Nas viagens de terra

Subterrâneo, mar e ar

Livrai-nos do pecado

Da perdição

Conduzimo-nos a Deus

Até o Porto Seguro

Da felicidade eterna

Imploramos por Jesus Cristo

Que conduziste nos ombros Amém

sexta-feira, 26 de março de 2010

Da série CONFISSÕES E SUSSURROS: Ainda em solo

Olhei e fui atraída.

(O precipício que convida com um piscar de olhos.)

Me lancei, sem me dar o trabalho de antes avaliar os planos e dados e plantas e cálculos dos especialistas contratados exclusivamente para este fim.

Aroma de risco torna tudo mais colorido.

Uivos de tempo perdido, antes do choque com o chão.

(...)

Ainda me debato, mas acho que permaneço inteira...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Da série CONFISSÕES E SUSSURROS: Espiral desenhando o Infinito

Ansiosa!

Ansiosas! As (muitas) Isabelas que residem aqui dentro estão desconjuntadamente eufóricas. Mundo que se anuncia com ecos de trombetas, sem no entanto se delinear frente aos olhos como seria de se esperar.

Eu pressinto um bom caminho, mas a falta de sinais e a acachapante necessidade de ser-se-por-si-mesma me apavoram.

Medo de me perder no meio da estrada e não ter, outra vez, ânimo de seguir sozinha. Não há mais graça no girar em círculos, no vagar a esmo, no uivar para Lua, no cavar sob os pés.

Ansiosa...

A certeza do onde se quer chegar, veja só que engraçado!, torna tudo mais definitivo e apavorante.

E a bagagem de coisas conquistadas pesa às minhas costas. Coisas que eu desejei, conquistei, agora as tenho e desejo. Mas o peso de lhes tirar o pó e lhes zelar e lhes usar e lhes compartilhar causa suor tamanho que quase lanço tudo para o ar e volto a correr nua pelos reinos distantes do Lugar Nenhum.

Ansiosa de não saber lidar comigo mesma...

Ansiosa pelo dia em que vamos, eu e eu mesma, pousar as armas e declarar paz infinita, criando uma terra de existência mais tranquila.

Não queria ter de matar Esta para renascer, pela enésima vez, uma Aquela que eu penso gostar mais agora. Queria brincar, uma vez que fosse, de ser borboleta a metamorfosear-se, que leva da lagarta ao menos a lembrança do ter-sido.

Basta de ser Fênix, de incendiar-me a cada novo nascer de dia e recolher das cinzas apenas os nutrientes para cultivar um novo solo distante da antiga casa.

Queria, um período de Primavera ou Verão ou Inverno ou Outono que fosse!, ser linha reta, ao invés de ser sempre espiral sem centro desenhando o Infinito.

(...)

Ai, que vontade de me ver dormir por longos sonhares...

terça-feira, 2 de março de 2010

Da série GRANDES QUESTÕES DA HUMANIDADE: Aprendizado mesmo?

Caminhando ao lado daquele-que-apenas-contempla-a-vida eu me pergunto, pulsando de desejos de compartilhamento, se estou finalmente aprendendo a esperar.

(...)

Se esperar entediar sempre tanto assim, acho que minha incursão por esse aprendizado não há de ser das mais frequentes....

Da série TELEGRAMAS DO MEIO DA TEMPESTADE: Mais um capítulo

Acontece basicamente assim:

Eu vejo o moço.

E eu escolho gostar dele.

Muitas, mas muitas vezes mesmo, ele tem apenas um detalhe muito pequeno escondido dentro de si que me permite ver o quanto estar ao seu lado pode ser divertido e gostoso. E isso me basta.

Aí eu quase sempre (porque faz parte do meu jeito ariana-com-Lua-em-Áries) vou lá buscar o moço.

E digo:

Oi, eu te vi passar aqui, te escolhi e vim te convidar para ir ali comigo. Veja aqui tudo o que posso te oferecer (e abro minhas valises de coisas bonitas recolhidas em anos de estrada). O que trago aqui dentro é muito valioso e bonito e especial e pode ser seu, se você me deixar chegar perto. E estou pedindo pouco em troca, porque o bacana para mim é ver você se revelar aos pouquinhos.

Quase sempre eu antevejo os tesouros primeiros que irão me apresentar. E restam, quando dá tempo de me mostrarem, muitos quilos outros de ouro&som&silêncios que me são revelados aos poucos, sem eu sequer ter imaginado existir.

Praticamente todas as vezes eu entrego logo na primeira esquina tudo-de-mais-especial-que-tenho para a pessoa porque sou ansiosa e acho que tudo é tão bonito que eu quero logo compartilhar. E nunca tenho medo dela roubar de mim meus tesouros, porque sou forte e se eu não quiser te dar eu tomo da sua mão e pronto!

(Ariana...)

Eu gosto de me dar ao outro. E de recebê-lo de volta, inteiro e do tamanho e peso que tiver.

Mas - e sempre tem um bendito 'mas' para dar relevo à história - quase sempre a minha empolgação soa de maneira terrivelmente pesada e aprisionante para o bonito interlocutor. E vejo a pessoinha partir em disparada com receio de tanta responsabilidade.

E olha que nem deu tempo direito de ela desfazer suas malas...

(...)

Tenho me perguntado se devo ir aos poucos, controlando minha alegria de viver esses tais momentos de compartilhamento.

Me pergunto seriamente, por outro lado, se isso não mataria 89,7% do meu charme ariano. rs

(...) (...)

Reflito mais um cadinho e quase sempre concluo que, na verdade, me mostrar por completo é o teste de força final para fazer a triagem necessária dos candidatos a Ulisses que vez ou outra se apresentam na sacada desta Penélope.
Mocinha bonita e bem-educada, sim; mas com uma alma de Velocino que coloca os mais frágeis para correr.

Não sei se prefiro companhias sem-graça, mocinhos tísicos ou o meu tear solitário mesmo. Por ora, tenho ficado mais com a última opção, sem medo de perder o viço e os candidatos desaparecerem de minha janela.
(...)

Suor, sangue, lágrimas. Viver é se fazer, desfazer, refazer. Viver é fluido! (...) O resto é existência café-com-leite.