JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Da série SEGREDOS E SUSSURROS: Perdida entremapas

Estou com a sensação ruim de meu vocabulário bilíngue ser mais limitado do que eu imaginava.

(...)

E agora, a quem pedir ajuda?

domingo, 26 de setembro de 2010

Da série GRANDES MISTÉRIOS DA HUMANIDADE: Apenas uma pergunta

A minha única pergunta é: em qual ponto do caminho foi que eu me perdi?

domingo, 19 de setembro de 2010

Da série BATALHAS DIÁRIAS: Da solidão de ser eu mesma


É engraçado ver a surpresa dos amigos frente ao fato de eu saber cozinhar
E diante do colega de trabalho que demorou mais de um mês para enxergar beleza em meu rosto
E daqueles que acham que sou frágil
Curioso os que pensam que sou boba, despreparada, mimada, medrosa
Estranho ele achar que não sou mulherzinha, e eu precisar chorar para ele entender que está doendo
E é um desafio à minha paciência notar no olho do popular a certeza de que sou uma burguesinha sem noção
E das mulheres-patas transtornadas por seus homens que um dia podem me enxergar
E, isso sim é um desafio, é muito estranho um cara que fica ouvindo pagode-alto-na-porta-da-casa-dos-outros-no-domingo-sem-camisa-tomando-cerveja-em-lata achar que eu sou uma pessoa para ele. Não porque ele seja pior, eu melhor, por conta de refinamento ou falta dele, mas porque eu não tenho interesse nesse universo e a pessoa não consegue notar.

Eu me acho tão óbvia, eu tento ser tão clara. Mas a falta de modelos de comparação deve ser a causa de tantos ruídos.

Ok. Eu também não ajudo muito: sou branca, black-power, meio gordinha meio gostosa, meio fresca meio bofe, tenho um Fusca velho e uso sapatos de couro rosa com laçarote, não faço nunca as unhas mas meu creme de cabelo tem que ser alemão, nasci na Pituba mas me porto como mocinha do centro, tenho ardores de étnicas-popular e discurso de bem-nascida na classe média, sei usar os talheres para poder comer de mão sempre que tô com vontade, meus pais são sulistas e minha religião é mais pra afro-baiana.

Mas, por favor, se a pessoa me olhar será capaz de me enxergar!

(...)

Minha preguiça é meio que essa com as aproximações desagradáveis. Elas normalmente são por pura incapacidade da pessoa olhar para algo além de si mesma. Como é que alguém pode 'gostar de mim' se nem me olhou o suficiente para saber que não correspondo aos primeiros modelos que ela tomou como referência?! Ai, Cristo - vou saltar de assunto - mas é por isso que eu odeio as mulheres-patas. Porque elas atrasam, por tabela, a minha vida. A total incapacidade de se imporem, de serem como querem, de fugirem um tiquinho que seja ao modelo preciso-ser-gostosa-e-fazer-escova-para-casar-com-um-cara-fiel-e-bem-colocado-e-você-é-uma-ameaça, de irem além da competição feminina, de pararem de se comparar o tempo com a outra me dá uma preguiça imensa. E desço a madeira em qualquer amiga que vier com esse discurso mesquinho e babaca que mulher fracote. Falo mal mesmo, esculhambo sem dó, na frente da pessoa em alto e bom som, para ver se se tocam.

Nunca esqueço o dia em que, quando eu ainda trabalhava na FUNCEB, fomos ver a orquestra Neojibá tocar. Na frente dos músicos, a spalla era uma violinista novinha, simplesmente linda, sorridente, elegante, com os cabelos e a cara da Pocahontas. Um troço de bonita, de luxuosa. E ainda devia ser talentosa, senão não estava ali dando o tom para os colegas de orquestra. Pois bem que, após o espetáculo, a menina era o comentário geral entre a mulherada e todas, mas t.o.d.a.s, com exceção de mim, teceram comentários maldosos e invejosos. De 'Deve estar dando pro maestro' a 'Se chegasse perto de mim eu tacava a tesoura naquele cabelo' foi o mínimo das imbecilidades que escutei.

(...)

Ai.... eu juro que refleti se devia ou não dar uma de louca e, contrariando o bom-senso, fiz a maluca e falei para todas que era ridículo aquele tipo de comentário, que a menina ser linda não torna ninguém feia, que isso sim as tornava desinteressantes e que eu, ao contrário, se pudesse tascava era um beijo nela de tão linda. E chamei todas de bobas e competitivas, de mulherzinhas e, obviamente, fui mal-recebida. Mas dei de ombros, como de costume, porque ter amigas mulheres nunca foi mesmo o meu forte. Não tenho saco para gente que reclama mas não resolve, quem postula responsabilidades, quem não confia no seu taco fica medindo o taco do outro.

Ódio da coleguinha de trabalho que se compara dia após dia e tenta me colocar para baixo simplesmente para ter companhia em sua insegurança.

Mulher é um porre. Gente tosca é um porre. Mulher tosca é o porre do porre, sinceramente.

E sigo, certa de que é mesmo um caminho solitário esse de ser como se deseja, agradecendo a cada dia por não ter ido fazer Medicina ou algo do gênero que ia me transformar em mais uma idiota de escova progressiva, feliz por minhas diferenças e lutando para me resolver com minhas inseguranças e limitações. Sem querer envolver o outro.

Porque eu sou minha! Meus erros e acertos ME dizem respeito. E minhas conquistas, minhas perdas, meus desavisos, meus riscos, quedas. E minha felicidade só diz respeito a mim mesma, sem possibilidade de fazê-la representar por alguém via procuração.

E se eu não me cuidar, quem irá fazer isso por mim?

domingo, 12 de setembro de 2010

Da série MENSAGEM NA GARRAFA: Longa estrada de tijolos dourados

Olha, eu não tenho medo do diferente, das diferenças, do desconhecido. Acho sempre um delicioso desafio passear pelos caminhos em que nunca entrei, sentir o cheiro do novo, desbravar. Costumo ser paciente e cuidadosa com os meus parceiros nessas aventuras, porque esse meu quase-fetiche pelo novo nem sempre é tão simples de ser acompanhado pelo meus. E em geral me consome muita energia. Mas eu costumo adorar...

É importante que se entenda que sou moça de riscos, e por isso meu amor pode ser imenso pelo diferente. Eu tenho, DE FATO, paciência para vencer a dificuldade do novo idioma que vem do outro, apurando ouvidos para entender mesmo a mais cifrada das mensagens.

E me esfolo para traduzir em atos os meus pensamentos, já que o agir em geral é menos trapaceiro do que as palavras. Eu digo que quero com o corpo todo, com cada olhar, com cada afirmação, com cada ir dormir sorrindo. E tenho dito tantos 'eu quero' ultimamente. É uma explosão de satisfação a cada nascer de sol. E que bom que tem sido assim...

(...)

Agora dá um medo gigante do que está extra-caminho. Pavor do que não poderia supor existir: medo daqueles que invejam minha coragem, que invejam o lugar dos meus partners, que desejam ser amados como eles são, carinhado como ele é. Gente que não aprendeu a caminhar e se diverte deitando no meio da estrada só para causar acidentes.

Quando eu caminho, mesmo em dúvida se estou na estrada certa, não me sento no acostamento. Tenho medo de não conseguir mais levantar. Nele há infinitos covardes, medrosos, preguiçosos de toda cor&estilo, sempre dispostos a me dissuadir da caminhada.

Sabendo dos riscos que habitam a beirada da estrada, eu, mulher multifoco desde minha tenra infância, filha de Áries que tem a força do incendiar sem a paciência do alimentar da chama, fiz um combinado comigo mesma para que minha vida não fosse um total fracasso: eu NUNCA paro de caminhar.

Com dúvidas ou certezas ou medo (constantemente medos) ou dor ou frio ou solidão ou o-que-houver-de-mais-pesado-para-se-carregar, uma coisa é certa: eu nunca deixo de seguir em frente. Muitas vezes eu sequer sei para onde estou indo, mas eu vou. Sempre!

(...)

E eu vim vindo, seguindo os rastros de miolo de pão que o moço-bonito deixou na estrada. Vim me construindo, realizando mudanças de rota, exercitando a audição. Vim porque quis, porque quero; então só me resta chorar como uma louca quando esse ato tão grande não parece ser suficiente. Puxa; o caminho foi tão comprido, qualquer um vê... então porque ainda pedir mais provas, fazer mais perguntas, procurar verbetes num idioma estrangeiro?

Ter caminhado até aqui não basta?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Da série GINCANAS DIÁRIAS: Calma para não surtar..

Meus desejos são de tantas ordens...

O real interesse de me desvencilhar da procrastinação em que submergiram meus estudos do mestrado se combina
... com a necessidade de emagrecer
... e a preocupação com o Tempo que começa a deixar suas marcas passando a me exigir algumas mudanças de atitude assim
... e os esforços de melhorar o aspecto do meu cabelo
... e cuidar de meus ossos que pedem clemência
... e de salvar meu estômago que desconta sua raiva em minhas laringe e faringe e boca e esôfago
... e a tentativa de me alimentar melhor
... e de ser menos agressiva e mais cuidadosa com as palavras e pessoas
... e com o sentimento de urgência de me picar desta cidade
... e a neura de que tenho que organizar minha carreira pra ontem
... e com as análises das pessoas que me cercam para eu encontrar uma boa maneira de me relacionar com suas loucuras
... e não posso esquecer de fazer os orçamentos para arrumar meu telhado
... e pintar a fachada de minha casa
... e arrumar uns problemas elétricos
... e resolver documentos e mil outras coisitas de meu carro
... e a briga com a Claro que me rouba há meses e que vou colocar na justiça por danos morais&materiais&vegetais&minerais
... e a paciêcia com meu ciúme que vez ou outra aparece trazido por umas vacas!
... e não perco de vista a vontade de fazer um blog decente de frescurites
... e há roupas mil me esperando no armário para pequenos consertos
... e o pânico de não saber inglês ainda
... e a dúvida em abrir ou não minha empresa
... e em passar ou não o reveillon longe daqui
... e o tédio de não ter conseguido viajar
... nem ter tido férias decentes 
... nem ter produzido direito este ano
... e lembro dos lugares para mandar Magritte
... e para apresentar Cartografia
... e (não se perde!) tem que registrar o texto do seu solo, mulhé
... e amanhã tem um evento para fazer
... e as contas estão desorganizadas
... e minha pele uma merda
... e minha poupança tísica
... e ainda têm projetos no ano que vem me esperando
... assim como a prestação de contas do Minifestival
... e 380 (sim, trezentos e oitenta) processos para eu revisar
... e tem que achar tempo de ir correr na esteira
... sem deixar o moço-bonito-que-adoro de lado
... e, ai, eu não li nem 03 livros este ano
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Vou surtar!!!!!!