JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Da série ORGANIZAÇÕES: Clarice

"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Da série DESENLACES: 2010

Sabe nesses dias que um satélite alinha com uma estrela e entra em conjuntura com o sol que a gente traz nos olhos e tudo de uma vez só tudo mesmo clama por ser resolvido? Como num golpe firme de sabre que decapita o inimigo; ZÁS! E eis que tombam no chão os conflitos pequenos que fazem a poesia escorrer entre os dedos e por mais que você se debruce aflita sobre o ralo nada mais do tempo perdido há de retornar? 

(...)

Sabe isso?...

(...)

(...)

Pois bem, que peito em flor, margaridas no lugar de cada certeza, ventos fortes por dentro, como naquelas frestas mágicas que revelam um vendaval no momento seguinte a abrir uma porta de saída eu me vejo assim. Confusa (começando no grave e terminando no agudo-agudo-agudo....)

E, ai, eu quase esqueci(!), mas preciso dizer isso antes que vire um cravo na ponta do meu nariz ou uma espinha atravessada na minha garganta: odeio quem sempre escolhe as respostas certas, os únicos bons ângulos de beleza, somente o correto, o coerente, o belo. Embuste, falsidade, hipocrisia. Me dá vontade de dar-lhes tapinhas no ombro e lembrar que a vida é curta e que todo mundo percebe que é apenas uma jóia de mentirinha encontrada no fundo do pacote de doces. 

(Não,amigos, isso não é indireta a nenhum de vocês....)

Sim, sim, sim.... o tempo disparou na minha frente e corro louca atrás dele, gritando peloamordeDeusvoltaporqueeuteamoeprecisodevocêcomoninguémjamaisprecisou!!!!!

(...)

Mas quem poderia acreditar numa frase tão melodramática? 

Eu no lugar dele, não voltaria, na boa... E você?

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Da série POESIA BARATA: Tempestades de dentro pra fora






Porque se eu fosse agora procurar ajuda seria apenas dinheiro jogado fora. Rosa-dos-ventos enlouquecida, apontando para todos os cantos mais recônditos dos continentes. / Mesmo assim eu falo e os outros apenas riem. Eu só gostaria que escutassem antes de reagir. Seria tão educado.../ O além-mar, muitas vezes, soa tão longe. Dentro a água barrenta, parada com algumas coisas boiando na superfície. Por mais que observe não consigo identificar o que é. / O que pode ser tanta agonia?

domingo, 5 de dezembro de 2010

Da série SEGREDOS DE INTERNET: Pavor


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Quando sinto medo a ú-ni-ca vontade é ficar embaixo da cama em posição fetal, sabe?!
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Da série ENSAIOS: Duplo carpado de costas

Eu cresci na Pituba. Quem conhece sabe que ali reinam os prédios compridos, com crianças correndo em playgrounds. Muitos, muitos prédios, cada vez mais numerosos e mais próximos uns dos outros. 

Tinha um prédio que ficava a questão de metros da janela do fundo do nosso apartamento. Pelo menos é isso que eu sentia: que eram tão poucos metros que um salto mais potente me levaria até a janela do vizinho!

E nos dias mais difíceis, durante toda minha vida, lembro de pensar que se eu saltasse com a força necessária eu conseguiria o feito de me dependurar no, sei lá, 13º andar do Edf. Paraguaçu; tão pertinho ele afinal...

Eu ensaiei mentalmente esse salto imaginário durante toda minha infância e adolescência.

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Bem; o fato de eu estar aqui, com meu cérebro inteiro DENTRO de minha caixa craniana já é o suficiente para dizer que eu nunca tentei o salto. Mas aquela sensação de que era possível ainda está aqui dentro. E levei essa certeza para tantas outras coisas, nas mais diversas áreas de minha vida.

Eu ensaio saltos mentais circenses todo-santo-dia. Foi assim para fazer Teatro, para raspar o cabelo, para começar e terminar coisas muito importantes, para abandonar pessoas... Eu sempre ensaio na cabeça trocentas-mil-vezes, em silêncio. E refaço os cálculos, e redimensiono os riscos, e penso nas piores consequências de um erro qualquer. Muda, quieta, com aquilo circulando sem parar entre olhos e alto do meu estômago.

Quando eu revelo meus planos para os mais íntimos, é porque eu já estou certa de que é possível. É apenas uma última verificação da solidez de minhas certezas.

E eis que, um dia... eu salto! Sem avisar a ninguém, sem convocar os repórteres, sem ajeitar o colchão lá embaixo. Apenas me lanço no vazio, embebida no sentimento de que o chão firme sob meus pés é já matéria obsoleta há muito tempo.

Amo meu bom-senso; o cultivo com colheradas generosas de doçura e palavras cuidadosamente gestadas. Ainda ofegante no pós-salto, tenho o hábito de me regozijar sem palavras, sorrindo por dentro ao constatar que sou mesmo capaz de cuidar de mim mesma. Auto-amor fruto de algo que aprendi desde cedo: não sou amável o suficiente para fazer os outros perderem tempo com excessivos cuidados comigo. Eu sempre, sempre, sempre, termino mordendo quem me alimenta, porque meu desejo de voar costuma ser mais extenso que a altura da gaiola. Mania de liberdade, que custa caro como poucas coisas entre o céu e a terra poderiam custar.

Mas, sabe? Eu só sei ser assim...

E por que falar disso agora? Simplesmente porque estou ensaiando um salto pavoroso para os de alma  pequena. Se um dia eu chegar à conclusão de que a distância ora calculada é mesmo humanamente possível, acho que dessa vez não vai restar nada do lado de cá, igual aquelas bases de lançamento que entram em chamas logo após a partida do foguete.

Minha angústia é essa, sabe?...  Debruçada sobre planos de mudança que vão me levar para uma outra dimensão completamente desconhecida, recupero todos meus registros de proficiência nos auto-cuidados para dizer para mim que, sim, eu consigo vencer mais essa.

(...)

Olhando o prédio ao lado, hoje, ansiosa com o futuro que estou traçando, eu acho a janela do vizinho tão próxima como nunca notei estar. Me espatifar no chão lá embaixo soa tão pueril que me envergonho de nunca ter tentado. E cheia de medos de mulher, me rio sozinha desse antigo medo bobo cultivado desde criança.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Da série PALAVRAS AO VENTO: Isabela(s)

Sobre o ventre:
Eu não queria ser dessa espécie de mulher que engole. Mulheres que sofrem no ventre, que se angustiam no interior do corpo. Quero ser dessa que solta, que lança, arremessa rumo ao sol, somente para ver a parábola bonita da dúvida se perder no contraluz.
(Anseios íntimos de ser Atena e não Deméter)

Dos meus limites:
Eu queria tanto acreditar mais no Acaso, e aceitar mais o Entorno. Mantenho boas relações com o Destino, porque seu humor sempre me faz perdoá-lo de qualquer falta grave. E sigo o Tempo com a certeza de ter com ele a melhor de todas as companhias.

Mãos:
Fiar, tecer, alisar, manter, segurar, apertar, entregar, derramar, socar, esfregar, estender, pegar, pegar, pegar, alcançar mais ao invés de forjar.

D'ele:
"Daí que ele um dia saiu da sombra e sentou bem no centro da minha atenção. Nesse dia peguei vício de segui-lo com o olhar, de fazer perguntas como a fã-mirim que se aproxima do famoso. Olhar fixo como quem quer tirar um retrato mas esqueceu a máquina em cima da mesa de cabeceira; esforço com o corpo todo para conseguir lembrá-lo em detalhes quando ele escorregasse de novo para penumbra. 
Daí que hoje eu posso sair da platéia, levantar a cortina já abaixada e procurá-lo por entre as cortinas. Delícia de procura, porque é uma dessas buscas autorizadas, como um jogo de crianças.
Sempre que eu encontro eu suspiro de alívio. Sorrio com os olhos.
(...) 
Eu gosto mesmo dele, sabe..."

S.a.n.g.u.e:
Aqui dentro parece que algo perdeu volume e de vez em quando falta recheio para todos os cantos. Tá ruim aqui, porque eu desisti de manter a casa arrumada. Preciso cuidar de minha morada.
Segunda-feira, por favor, faça as pazes comigo!