JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Da série A MULHER NO ESPELHO: Longas letras

Abriu a boca e dela quiseram sair animais peçonhentos porque eram eles que ela alimentava há dias entredentes. Para eles oferecia alimentos feitos de pensamentos nocivos nutridos desde longa data. Mas, porque mesmo nos dramas há um 'mas', o menino-de-olhos-que-endurecem ensinou uma outra coisa; lição aprendida aos pedacinhos, mas com o corpo todo. E da boca então saíram palavras cheias de vergonha, mas alinhadas e ordenadas para se fazerem entender. // E do seu ventre queriam sair os medos, aninhados na curva mais fechada das certezas, que ela brincava de torcer desde tenra infância. E os olhos se fizeram em água, coisa que desconcertou o que a ungia. E ela berrou. Berrou. Berrou, até se fazer ouvir. E o olhar de desconcerto doeu tanto nela e tão fundo e tão forte e tão de verdade que ela se refez inteira, com medo de sucumbir àquela dor apenas por mirá-la um período mais longo. (Dor-Medusa, dessas de empedrar tudo: sonhos, idéias, suspiros, afetos.) // Então se fez de rogada e, com um último soluço, se recompôs do jeito que o outro havia aprendido.// E da ponta dos dedos saíram nesgas de leveza, desmedidamente indiscretas, como grito de medo que causa vergonha assim que se acendem as luzes.// E, já sentada, do centro do seu peito saiu um chá amargo, feito de sentires gastos fervidos e re-fervidos anos a fio em uma panela cuidadosamente observada pelos seus monstros de criança.

(...)

O fato: ela está cansada. E com medo, muito medo mesmo. Apavorada com o que a curva ali à frente esconde. Ela queria ser outra, ter outros, ser de outros. Entender-se com menos pulsão, com menos cicatrizes. Ela, eu sei, gostaria de ser feita com menos nuances, trazendo em si cores mais chapadas, só pelo prazer de se simplificar um pouco.

Ela quer se sentar na estrada e ficar ali. Talvez cochilar um pouco. Mas, a pergunta: quem viria no momento certo acordá-la para lembrar que já é hora de atender à vida que chama por ela?

(???)

Por via das dúvidas, ela se mantém acordada. E segue...

domingo, 11 de julho de 2010

Da série DIA A DIA: A quem interessar possa

Esta semana eu:
  1. Passei na audição de um espetáculo que eu queria muito fazer;
  2. Escrevi um projeto atrasado;
  3. Fui em 02 aniversários de cancerianos queridos;
  4. Ganhei e dei vários chamegos de/a um mocinho-bonito;
  5. Paguei contas mil;
  6. Comprei um aspirador de pó;
  7. Organizei minha agenda;
  8. Desafiei minha criatividade diante da semi-vazia despensa de minha casa;
  9. Revi uma amiga querida;
  10. Tive reunião e dei boas idéias;
  11. Participei de um debate que considero importante;
  12. Coloquei coisas importantes no Correio;
  13. Me inscrevi em uns 30 festivais de vídeo;
  14. Recebi um trabalho atrasado de um prestador de serviço;
  15. Comi feito uma porca;
  16. Dormi o necessário;
  17. Revi um amigo querido;
  18. Tomei várias cervejas;
  19. Perdi menos horas na internet com besteiras.
A semana que vem começa em instantes e, garanto, há de ser tudo essencialmente diferente e igualmente desafiador.

E vamo que vamo, meu po(l)vo!!!!!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Da série BATALHAS DIÁRIAS: Exercício de delicadeza

Tentando comer de colherinha pra não gastar


Segurando a mão com fios de delicadeza para não permitir que a ansiedade consuma tudo antes de chegarmos ao prato seguinte. // Um instrumento para cada coisa: de uns lados ser silenciosa e vagarosa é o que se lê no manual. Noutros, rapidez e arrojo, me indicam as instruções. E no meio de tudo isso, como máxima irrecorrível, a necessidade de depor a ansiedade e a competitividade inútil. 

Ingredientes delicados de textura macia é o que tenho entre os dedos, então não adianta tentar morder o que é feito de espuma, onde há mais intervalos e ar do que material concreto. Alimento para se comer num suspiro e não abocanhando ou aos goles.
Calma...

(...)


(...)

E para os que acham tudo isso um conflito bobo, escutem: os momentos de vida em que devo pousar a espada e armadura e elmo e maça e escudos para substituir por talheres de criança são os mais tensos de todos, fiquem doravante sabendo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Da série REEDIÇÕES: Alminha azul

Esse texto eu escrevi há um tempo, e de fato gosto muito dele. Está no antigo endereço do meu blog, ao lado de tantos outros que vou reeditar aqui, sempre refletindo um pouquinho sobre a pessoa que eu era quando eu escrevi isso. É uma proposição completamente auto-centrada, movida pelo interesse de resgatar alguns escritos que ficaram meio esquecidos e de fazer uma espécie de auto-análise muito mais barata e poética do que pagar um bom terapeuta.

Para dar um charme o texto de hoje tem ilustração e tudo, by Carol Feitosa, que seria minha parceira em um projeto virtual que nunca foi pra frente.

É isso. Se não gostou da nova série deste blog clique aqui e faça sua reclamação.

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23/09/2008


Da série MENSAGEM DA GARRAFA: Esse pônei não sou eu


Tirei minha alma pra lavar. Vícios de limpeza poética daqueles que descendem dos índios. Do tamanho de um vestidinho azul, como os das meninas que sabem falar como adultas mas preferem mesmo observar o trânsito das nuvens. Estendida no cabide achei que tanta vontade não caberia ali dentro. "Esta alma não é minha", cochichou a moça açucarada ao rapaz que ela escolheu para olhar nos olhos.


Quantas vezes vou precisar chegar até a porta dos meus desejos para conseguir alçar o vôo que minhas asas anseiam? Por que gastar tanta loucura para construir um chão sob os pés? Não bastava ter sapatos de Doroty e encontrar um lar onde pudesse deitar meu pensamento? Não há lugar melhor do que o nosso lá, que dobra a curva da face risonha e descobre que por trás das montanhas moram os verdadeiros sonhos multicores. Ela tentou se lançar do alto do abismo, mas o seu espírito era tão comprido que bastava se esticar para tocar os pés lá embaixo.


Salto sobre as poças para não precisar mergulhar em uma xícara de boldo, como meu lindo amigo que abriga um passarinho no ombro gosta às vezes de fazer. Me afogar em mim mesma soa tão dramático que rio com a trilha sonora latina que escapa pelos meus poros.


Rir de si mesmo: o charme do mundo...

Da série DIA A DIA: Chegadas por adentro

Muitas coisas caminhando ao mesmo tempo!

Coisas demais e algumas de fato muito boas...

Coisas que correspondem aos meus desejos, aos meus investimentos...

Coisas que se aproximam daquilo que escolhi ser...

Coisas que são minhas, forjadas com esforço e suor mesmo...

Coisas que são projetos, coisas que eram desejos, coisas que eram uns sonhos a esmo que agora parecem perto demais...

Coisas diversas, tantas e muitas, tudojuntoaomesmotempoagora que eu espero apenas ter escolhido o melhor para mim....

domingo, 4 de julho de 2010

Da série GINCANAS DIÁRIAS: Fazendo cooper com Cronos

Este é um ano de conversas com o Tempo, eu sei. Revelado seu maior segredo, o ilustre senhor me chamou então para um jogo de regras complicadíssimas no qual aceitei entrar mais por educação do que por qualquer outra coisa. Que coisa doída! Meio tateando, meio ouvindo as vaias da arquibancada, vim perdendo pontos, errando as jogadas, furando regras e procurando novas táticas até dia desses com pouco êxito. Quando então, já derrotada pelo meu próprio cansaço, o corpo pediu arrego e me vi de cama pensando que iria daquela pra melhor no momento seguinte.

(...)

Fato é que não fui pra lugar nenhum - como podemos denotar do fato de eu estar aqui escrevendo este post - e levantei dos dias de molho com a força dos renascidos no instante anterior. E mudei a forma de jogar, tentando ter prazer nesse suadouro danado que meu amigo estava propondo desde a virada de 1° de janeiro. E esse relaxar me devolveu a leveza e o foco, e as coisas voltaram a caminhar como eu gosto.

Vale destacar: em meio às duras tarefas da gincana de Cronos, eis que apareceu um participante para terminar de desafiar minha capacidade de organização. Sim, ele tem razão de dizer que muitas coisas poderiam estar sendo feitas nos tantos minutos que prefiro ficar a seu lado, mas isso não me chateia. O prazer dos minutos desperdiçados com carinhos e contemplação fazem os restantes mais fortes e valiosos. Estar assim é bom, com recheios de espuma delicada que amacia até o mais duro dos pensamentos. Com ombros mais baixos, voz mais doce, cabeça com asas... Estar assim é coisa que não se 'escolhe' e sim se 'permite' acontecer. Abrir canais, ativar ouvidos, olhar no ho.ri.zon.te, atenção ao presente e, veja só, um dia essa delícia de condição termina por se instalar. E aí não há mais de se lutar contra ela. Porque às vezes, é verdade, temos vontade de estarmos diferentes, mais bélicos e práticos; compreender que não há opção ao sentir é o melhor caminho para saborear cada um dos suspiros que o peito insiste em gerar.

É já metade do ano que deixamos na estrada de 2010; restam ainda uns cento e tantos dias que não saberia precisar pela matemática das aulas, mas compreendo claramente quando substituo a álgebra pela intuição, sem nem ter que recorrer aos dedos para saber que ainda há muito caminho pela frente. Muito suor. Muitas jogadas. Muita, muita, mas muita coisa mesmo. E cabe aos de bom espírito e cabeça sã fazer valer os próximos momentos dessa gincana que não tem fim.

(...)

E, dando eco aos sábios, repito: vamo que vamo!