JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Da série DIA A DIA: Levantando da cama

Caí de cama na semana passada. Tive dengue. Achei que fosse morrer, que tivesse com um tumor na cabeça, que tava com câncer, que o Diabo vinha buscar minha alma, sei lá. Foi bem ruim.

Sempre que eu fico doente eu penso que eu vou morrer. Invariavelmente eu chego à certeza de que tá na minha hora mesmo e não vou passar daquela nunca mais. Essa recorrência mórbida talvez seja fruto de uma culpa oculta por ser uma pessoa que usa o corpo até o deslimite da razão e da resistência. Vai entender...

Pois ali, prostrada na cama, percebi que tenho cuidado bem dos meus afetos. Amores de ordens diversas se apresentaram para cuidar de mim, porque eu precisava. Eu até precisei pedir em um ou outro caso; mas sempre chegavam eles zelosos e com paciência de sobra para meus rompantes de moça-teimosa. Recebi carinhos, sopinha na boca, tempo dispensado à minha pessoa, sorrisos, cafunés, massagens, remédios, cuidados com minha morada. Tudo que uma pessoa pode desejar em forma de carinho nessa vida!

Junto a isso, meu trabalho, apesar de tudo, também mostrou que tem andado bem relacionado; as demandas profissionais bateram à minha porta sem parar. Infelizmente, como poucas vezes tenho registrado em minha memória, não dei conta de tudo. Sucumbi mesmo, depois de lutar contra o corpo até o lugar que consegui. Mas não cumpri tudo o que devia, e junto com os remédios estou tentando me livrar da culpa pós-doença. Fica a ressaca moral-profissional ao lado de um aprendizado de que, sim, não devo ultrapassar determinadas linhas sob pena de me lascar de-com-força.

Ah! O moço-bonito-que-tem-me-feito-sorrir mais uma vez me surpreendeu. (...) Mas em respeito às suas preferências no lido com seu material íntimo, isto é tudo que tenho a dizer sobre este tema específico. 

No mais, amigos e família me fizeram chorar aqui depois por entender que sou, sim, gostável e cuidável. Choro aliviado, de quem se cobra demais e acha que o mundo um dia vai perceber que sou uma pessoa intratável. Mas suspirei tranquila, por notar, sã e salva, que não desaprendi a me deixar amar apesar de todos os recorrentes devaneios sonhando em fugir da civilização.

E, como sempre, repito: vamo que vamo!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Da série ITENS DE PRIMEIRAS NECESSIDADES: Código Binário

Não-vivo-sem: momentos de silêncio e solidão; celular de conta; dias de sol; casa limpa; dinheiro suficiente; Shampoo Bonacure e leave-in que preste; rímel; salada verde; café, café, café; produtividade; coisas funcionando à minha volta; andar na rua; cigarros de menta vez ou outra; peso controlado; bons ouvintes; livros de arte; viajar; roupas que eu goste; bijuterias; confiança no interlocutor; elogios; perspectivas profissionais; agenda; cerveja gelada; discussões sinceras; amigos; desodorante e perfume; uma boa cama; bons parceiros de trabalho; novidades; caminhar pra frente.

Vivo-sem: namorado; roupas da moda; cabelos lisos e unhas feitas; puxa-saco; cargos de destaque; riqueza; carro; aprovação do olhar do outro; agradar a desconhecidos; cartão de crédito; televisão; ganhar sempre; ser 'a mais' qualquer coisa; batom; lugares badalados; modas em geral; inveja; música; chocolate; ar-condicionado; travesseiro; internet; animais de estimação; shopping; drogas ilícitas; refrigerante; disputas de qualquer ordem; sexo; turma; cinema; calça jeans; falar inglês; Carnaval.

(...)

Reflexões de fim de tarde. Porque saber o que nos parece essencial é sempre coisa das mais úteis.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Da série A QUEM INTERESSAR POSSA: Top Ten

1 - Estou mesmo bem feliz do jeito que estamos;
2 - Meu corte de cabelo atual é o mais bonito de toda minha vida;
3- Minha internet está uma merda;
4 - Ontem decidi ser, de fato, uma acadêmica séria daqui pra diante;
5 - Plantas legais nascem no meu quintal;
6 - Estou empunhando a pacífica bandeira "Morte à Violência Urbana em Salvador!";
7 - Vai ser mesmo impossível viajar agora;
8 - Preciso de organizar profissionalmente antes que eu morra;
9 - Minha casinha tem andado mais arrumada do que de costume;
10 - Oui, je parle bien le français!

domingo, 9 de maio de 2010

Da RASCUNHOS POÉTICOS: Poesia barata

Caminhando por entre metáforas. Tropeço em pedaços de coisas que não fazem mais sentido, largadas pelos cantos por eu não saber bem que fim lhes dar. Pensamento embaraçado. Cabelo que cresce como grama, alimentado pelo calor das idéias que giram em moto-contínuo. Parei a minha Roda da Fortuna e agora anda difícil vencer a sua inércia. (As aulas de Física atentamente acompanhadas tornaram meu vocabulário uma miscelânia bizarra, de amperagem elevada em formas termo-dinâmicas).

(...)

Ando procurando o botãozinho de 'reset', mas essa coisa em que me lançaram não veio com esse adicional de segurança.

(...)

Ontem eu vi uma cena pós-acidente e a única coisa que me entretia era entender o movimento pré-impacto. Louca, exausta, sozinha do lado de dentro, inquieta, cuidada do lado de fora, zarolha, vesga, inquieta: posso estar como estiver, mas minha cabeça não pára de calcular as medidas do mundo.

(...)

Curioso que 'viver' não seja verbo reflexivo na língua francesa. Eu sempre quero usar o 'être' para as coisas que já passaram. Resistência em 'ter' ao invés de 'ser' a me confundir as pernas e cansar meus joelhos que suportam a minha eterna corrida maluca para LugarNenhum - ou para as TerrasDesconhecidasDoVãoDoMeuPensamento. O que na prática dá no mesmo...

Ah! Depois do inglês vou aprender alemão, só para brincar de criar palavras xifópagas que, de tão grandes, consigam abraçar o continente. A vida também é composta de inutilidades, darling....

(...)

Olho para cima, pros lados e para frente, como a menina-bem-educada que aprendeu a atravessar a rua sozinha desde cedo. Problema é quando a distração com o caminho me faz sempre dar meia-volta e oferecer o corpo para o choque seco contra o carro. ..............................................................TUM! Silêncio, suspiro, sonhar: sequência de sibilos que não passam de poesia barata de canto de boca.

As palavras jorram como os minutos. Para onde vão eu não me importo em perguntar. Minha cabeça gera apenas suores e metáforas bobas a se acumularem no chão e, como no começo, vão me fazer tropeçar logo ali adiante.

(...)

Ah! A quem interessar possa: acho um saco isso de esquecer a gaveta onde guardei minhas certezas.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Da série COISAS QUE A GENTE NÃO APRENDE NA ESCOLA: Resiliência

Minha vida tem sido uma malhação diária dos nervos do auto-controle, otimismo e paciência. Me sinto, desde o começo do ano, caminhando em um pesado charco, não muito fundo e pouco ameaçador, mas que cansa as pernas com a quase solidez de sua composição.

Lama, barro, terra, lodo... até os joelhos, onde sigo lutando contra a densidade da matéria que me toma da cintura para baixo. Não tem como pedir ajuda a alguém e me entregar a cuidados de outrem, porque é mesmo comigo a coisa, isso já entendi. Então tem que ter força-na-peruca, ainda que cafunés e dengos sejam, como de costume, reanimodores dos mais bem-vindos.

O fogo é não poder parar... Desistir não é idéia das mais reluzentes, posto que sequer tenho algo sólido para pousar meu ilustre derrière. (Como no Sol, não há solo aqui embaixo). Sob mim apenas densidade e necessidade de se seguir.

O curioso é que eu vejo, com clareza e proximidade, os campos sequinhos e coloridos nos quais poderei caminhar se tiver paciência e resiliência* para continuar no caminho, mesmo que desafiador e entediante até o talo!

E, poxa vida Destino, dá uma amaciada aí na mão! Pelo menos, por piedade, suspenda o envio de novos desafios por uns (longos) tempos. Porque corrida-de-velocidade-sozinha-na-lama-com-peso-e-obstáculos é uma modalidade tão extenunante que não caberia nem nos Jogos Olímpicos Antigos.

E, exausta, repito: vamo que vamo!

__________________________________________________________


*Resiliência: [Do ingl. resilience.] Substantivo feminino
1.Fís. Propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica.
2.Fig. Resistência ao choque.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Da série INSPIRA, EXPIRA, TRANSPIRA: Um dia da-que-les

  • 7:00 - acorda depois de semi-desmaiar na cama na noite anterior. Sorriso sentindo por ter que deixar quem permanece ali deitado logo cedo.
  • 8:00 - descoberta de uma MEGA infiltração no meu quarto, na parede ao lado da cama, mais um capítulo da novela 'A Casa Velha & o Telhado Furado'.
  • 8:30 - discussão prática e conceitual com a vizinha do telhado em questão. Limpeza fast e arrumação fast + fast da casa.
  • 9:00 - MEGA debate e negociação com um dos donos da minha casa e co-autor da novela 'A Casa Velha  & o Telhado Furado'.
  • 9:30 - respostas e aceites de novos trabalhos (pra fazer que horas mesmo, minha nêga?!). Terceiro café do dia. Cobranças de prestadores de serviço enrolões do cão! Resoluções para Fragmentos. Banho, arrumação e planejamento do dia.
  • 10:00 - corida maluca para devolver o carro alugado para ir ontem no Barradão. Cheguei atrasada e pimba! 50 conto de multa!
  • 10:30 - ônibus e parada no BB para pedir novo cartão e sacar na boca do caixa. O banco parecia o estádio no jogo da final de ontem, de tanta gente. Desistência. Corrida para Caixa Econômica para fazer a mesma coisa que no BB. Lá estava a mesma hecatombe.
  • 11:00 - ida para casa da mãe. Recebimento de livros comprados pela internet. Descoberta que o livro que comprei para dar de presente veio amassado(!). Breve discussão com o porteiro por motivos diversos. Desabafos com Conça. Dar presentes para ela.
  • 12:00 - almoço, banho, planos refeitos. Decisão da agenda do dia das Mães.
  • 13:30 - saída para turno da tarde.
  • 14:00 - giro no estacionamento do Iguatemi cerca de 20 minutos por uma vaga, sem sucesso. Morrer em 4 conto no estacionamento ao lado. Pagamento do aluguel, reposição do cheque roubado, discussão e negociação MEGA sobre os próximos capítulos de 'A Casa Velha & o Telhado Furado'.
  • 15:00 - passagem na SECULT para começar o trabalho (pra fazer que horas mesmo, minha nêga?!) que vai garantir meu final de ano. Adiamento do início, devido ausência da pessoa responsável.
  • 16:00 - corrida maluca para o Barbalho para resolver do carro velho. Cidade semi-parada pros lados da Bonocô e Rótula. Retorno praticamente em Aracaju para fugir dos engarrafamentos. Discussão e negociação MEGA com o mecânico. Saída para comprar o jogo de embreagem inteiro. Pagamento de algumas centenas de reais. Oitavo café do dia.
  • 17:00 - vinda para pagamento do chaveiro que tornou a porta de casa, finalmente, algo seguro. Pagamento em cheque, porque a pessoa não tem nem cartão nem como sacar porque todas as pessoas do mundo decidiram ir ao banco nos últimos dias para servirem de figuração da sua novela. Sorrisos para vizinhos. Décimo café do dia. Resoluções de internet.
  • 18:00 - reunião de trabalho. Dores no corpo. Quinto choro-choramingo do dia. Quarto cigarro do dia. Mais um café. Decepção com a inviabilidade total de ir à academia, já paga e muito bem paga.
  • 19:00 - em desobediência a todos os planejamentos, parada para desabafar no blog.
(...)

de 20:00 às 24:00 - reunião do VAGAPARA. Devolução do carro emprestado lá na puta-que-pariu. Retorno de ônibus. Tradução de um texto. Lavagem de roupas. Alteração de uma viagem. Planejamento da semana. Mais uns três choramingos e uns dez cafés.

Porque, se fosse fácil, a vida não terminava sempre em morte, né não?!