JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Da série S.O.S.: Falta de oxigênio

Subi no palco e disse a toda voz que admirava os que seguiam as tempestades.
(...)
Agora elas me perseguem!
Rosa-dos-Ventos de possibilidades a fazer meus dias mais duros. Mais loucos. Mais curtos.
No olhar das pessoas há o reflexo de uma alguém que eu não reconheço. Porém eu gosto dela, e fico me contorcendo na frente dos espelhos d'água das retinas alheias para me encaixar no protótipo bonito que eu julgo tão diferente de mim.
Mas eu sou aquela. Eu sou a que brilha, mesmo quando tranca as portas e cerra as cortinas com medo dos fotógrafos que vão aprisionar sua alma no negativo.
Para onde eu estava indo mesmo?...
Canadá, Londres, Auckland, San Diego, São Fransico, São Paulo, São Bernando, meu Santo Antônio.
Melhor, meu Santo Expedito, ajudai-me. Dai tranquilidade a essa alma de fogo que crepita rápido demais para eu acompanhar seu ritmo. As pernas doem, o pensamento dói, e os dias escorrem por entre os dedos como se meu Amigo tivesse parado de me amar simplesmente porque revelei seu maior segredo. Mas, Tempo, você sabe que nosso caso de amor será eterno. Volta, por favor.
Sem ar, sem medo do ridículo, sem vergonhas, sem pudores, choro como as crianças e lembro para ele que sua ausência significa meu fim... Não vai...
(...)
VOLTA!!!! É a única coisa que saberia gritar agora, se ainda houvesse algum lampejo de voz no meu peito...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Da série PERGUNTAS: O outro

Como pode o corpo de um outro soar como perfeita morada de um alguém?...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Da série MENSAGEM NA GARRAFA: Um último aviso

Cara senhora,

É válido começar dizendo: sou dessa categoria de gentes que não esquece determinados atos.

Eu remôo, remôo, re-rôo o que me desagrada. Encho os ouvidos do que me acompanha com perguntas sem que haja uma resposta clara. Isso porque estou chateada, porque plantei uma coisa e você veio me trazer frutos diversos aos prometidos na embalagem das sementes. Eu tinha escolhido cores bonitas e independentes, e cuidei com carinho do crescimento delas; agora você tenta de forma sorrateira trocar o que colhi com o que você traz em sua cesta.

Sei reconhecer quando há equívocos deliberados por parte do remetente, assim opto por te escrever para alertá-la do erro. Sem ofensas, querida, você está confusa.

E, ouça, não venha me encher de olhares atravessados agora, Cigarra, porque eu tive empenho no momento oportuno. E isso nada tem a ver com seus cantares de outrora. (De verdade verdadeira seus cantares não me interessam em absoluto...).

Por favor - e peço que abra os ouvidos para expressão educada de pedido ainda mantida com esforço - me deixe em paz! Me dê sossego! Me esqueça! Cuide de SEUS canteiros antes que eles te ressequem por dentro.

Aqui só tenho os frutos justos para minha necessidade, não há sobras para você. E lembre que há ainda as necessidades dele - aquele que cito nas primeiras linhas dessa correspondência; guardo alguns frutos para ele também se satisfazer. Dá trabalho pensar por dois às vezes, mas eu não me importo com o preço quando lembro dos sorrisos que isso me gera.

Você também poderia tentar outra vez, mas não pode ser nesta casa, porque aqui não há lugar para você. Tenho certeza de que é capaz de entender isso: aqui não há espaço para terceiros.

E de forma alguma pretendo ceder o meu espaço, conquistado com carinho e delicadeza. A simples menção de uma proposta como esta me soa como uma profunda ofensa; não creio que você deseje entrar por aí.

Na verdade eu não cria que você desejasse isso; mas tenho começado a acreditar que é justamente essa a sua gana: a do incômodo.

E é justamente por isso que te escrevo; porque ainda guardo por ti uma ponta de respeito e cordialidade. E uso do que resta deles para te pedir: vá embora enquanto é tempo. Você não é bem-vinda em meu lar. Ponha-se daqui pra fora antes que eu te expulse de fato. Tome sua estrada antes da chegada da Tempestade. É bom que você parta por conta própria antes que seja necessário eu cobrir sua arrogância de sopapos, caríssima Cigarra.

...

Vá enquanto há compreensão e paciência de minha parte, é unicamente o que te peço.

Porque esta mensagem é o último sopro de doçura que será lançada em sua direção. Daqui pra frente só resta losna, fel, saliva grossa que só se elimina se grudada a palavras de força. Resíduo que só sai com palavras exclamadas, com gestos desmedidos. (...) E eu juro que não quero chegar a este ponto.

Assim, finalizo esta carta. Com delicada certeza de que vou tocar em seu lugar de bom-senso, antes que seja necessário revirar os seus recantos mais patéticos. Porque, se for necessário, não terei receio de entornar suas gavetas de segredos em plena via pública.
Assim sendo, pare onde está! Não prossiga com sua burrice; simples assim.

É apenas isso que peço. É essa minha ressalva final. Recado que fica apenas entre mim e você.

Certa de sua compreensão, me esforço com o que resta e te mando um beijo e um abraço educado.

Sem mais,
F.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Da série TRABALHOS: Cartografia de um relevo interno



Decidi partir para uma viagem.


Com esta afirmação grafada com a força da incerteza, rumei para uma longa jornada em direção ao castelo que teimo em trazer dentro de meu peito. Castelos de sabor e imagens e vozes, que sussurram pelas paredes irregulares histórias tantas e cores tantas e certezas tantas que por pouco não me fizeram perder o ar... E me vi ali, perdida na margem do rio a cortar o profundo vale aos pés dos reinos mais distantes por mim já visitados. E eu me espremi como pude para percorrer todo o caminho que separa a dinastia das vampes cultuadas por Camille Paglia e a monarquia das mulherzinhas-de-açúcar entronadas por Clarice Lispector. Só espero um dia chegar aonde há tanto desejo ir.

(...)
E eis que aqui me apresento por capítulos - como as respeitáveis senhoras que visitei fariam. E lhes mostro uma menina-moça-mulher mensageira de memórias, desejos, expectativas e, por que não dizer? nesgas de humor que ainda hão de salvar a minha cútis!



Isabela Silveira – intérprete, texto e direção
Celso Jr. – Co-direção
Thúlio Guzman – assistência de direção e orientação de movimento



AGOSTO, NO TEATRO GAMBOA NOVA
Hoje, dia 20/08, às 20h
Sábados (21/08 e 28/08) às 17h!
Apareçam lá!



terça-feira, 17 de agosto de 2010

Da série SEGREDOS E SUSSURROS: Sorrindo

Pois bem que desejei tanto e de forma tão discreta e tão prudente que a encomenda me veio melhor que o previsto.

(...)

O moço tem me trazido dias melhores... E sorrisos maiores.

(...)

Que seja assim pelo tempo que pudermos estar assim. E isto basta!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Da série LISTA DE DESEJOS: Férias, correções, surtos, sussurros e indiscrições

A verdade é que eu sou uma mulher com-ple-ta-men-te louca. Que estar por perto é estar suscetível a mudanças de clima/cor/dinâmicas sem aviso prévio. E que TENTO ser mais constante apenas para não machucar as pessoas demais. E que dou pistas sempre pois dor é coisa com a qual a gente se acostuma se for chegando devagarinho.

(...)

Eu pesadelo devaneios terríveis onde todos percebem o que trago por debaixo da pele e me deixam para 'todo.o.sempre.amém' de lado. Por medo de mim!

(...)

Eu sou da categoria 'gente de bem' porque ferir o outro não faz parte de meu hall de prazeres. Mas como é que controla alma de fogo que crepita e se perde em suores de tudo quanto é tipo e vindo de nem sei onde?

(...)

Ah! Eu não gosto que furem comigo; que pensem que estou à espera sempre; que me dêem chá de cadeira se assegurando em meu afeto; não gosto de sentir ciúmes ou invejas; não gosto de palavras que cheiram mal e detesto caminhares em círculo. Detesto!
 
Me apaixono pelo andar pra frente, ainda que a imobilidade algumas vezes me faça descer do meu cavalo para conversar com os que se sentam na beira da estrada. Mas, peloamordeCristo!, não caminhem para trás e não girem como perus, porque isso me enoja demais, caros senhores!

E, por fim, a novidade que me visita a toda entrada de segundo semestre:
- Isabela, me diz a mulher no espelho, eu queria tirar umas férias de você. Como é que a gente faz?
Ao que eu lhe respondo:
- (...) Não sei; compra feito...

domingo, 1 de agosto de 2010

Da série MENSAGEM NA GARRAFA: Defendendo meus direitos

Defendo arduamente meu direito de 'não gostar'.

Não gostar de algumas pessoas.
Não gostar de determinadas situações.
Não gostar de certos sabores.
Não gostar de rotinas assim ou assado.
Não gostar de diversas coisas bobas ou importantes.
Não gostar, simplesmente, sem ter que fingir que gosto. Sem, por outro lado, machucar quem quer que seja.

E me dou esse direito unicamente porque tenho clareza que minhas preferências por ou contra qualquer coisa não são ofensas. Meu gostar é apenas mais um entre tantos.

E eu não acho que valha a pena ter que dissimular meus sentires e posar de boazinha sempre. Até porque eu nem sou 'boazinha' exatamente. Sou gente boa até, do Bem por convicção, mas 'boazinha'.... não, não. Obrigada!

(...)

E defendo ainda e bravamente o espaço da diferença e do dissenso. E que haja sempre espaço reservado para a originalidade de posicionamentos e para as discordâncias. Sem nunca macular o respeito ao outro.

Mas, não posso achar natural essa hégide do se amar-se gostar- se admirar a todos, sempre e mutuamente. Que porre...

Sem contar o fato de que necessito de muito espaço interno para meus amores de verdade. Vastos quilômetros para meus quereres sinceros. Para meus reais desejos. Então não tem sentido oferecer lugares afetivos apenas por obrigação.

(Até porque nunca entendi bem o que se pretende alcançar agindo assim...)

Gosto do que gosto e não gosto de fingir que gosto do que não gosto!

E, pense bem: minha opinião nem é tão importante assim. Ela não derruba chefes de estado, não altera rotas, não diminui os dias, não influi em nada na ordem mundial, não torna seu cabelo feio... Meus gostares são apenas MEUS, eles não precisam ter grande importância para que não eu mesma

Então posso dispô-los como bem desejar.

(...)

E, aos carentes de plantão, eu lembro: se eu não gostar de você, é problema apenas meu. Não impede que outros tantos te achem o má-xi-mo.

De forma que, educada e objetivamente, eu lhes peço: me deixem em paz!