JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Cada vez mais em dúvida se a liberdade aproxima ou manda embora.

(...)

Eu me pergunto, olhos borrados de saudade e carência e fome e sei-lá-mais-o-que-hormonal, se estou caminhando para o aconchego ou para o lado de fora da sala quentinha. Lá fora faz frio de bater o queixo e tremer o peito; talvez nem venha ninguém me dar um abraço longo de tanto que pensaram ser eu moça sozinha.

Sou por mim porque me ensinaram a ser desse jeito, juro que é só por isso! Não tem muita escapatória: trazer nas costas casa&espada&armadura&ungüentos diversos, porque a queda é certa e o médico hoje não virá. Auto-primeiros-socorros, de se fazer por si e olhar sem medo da falta de paciência do outro. Silêncios, vazios e um cansaço de ter que se segurar sempre nas próprias pernas. Custava atender o telefone, poxa vida?!

(Engraçado que isso faça alguma diferença agora, que já estou sã e salva em casa alheia, resignada com o destino de ser eu mesma a minha cuidadora.)

O cafuné que ensinei para a mocinha porteña foi de verdade e a professora nem precisou ressaltar que a lição era uma daquelas que não se conclui sozinho; precisa sempre de um partner, porque é carinho que só presta se realizado por mais de um.

(...)

Olho borrado, confuso e fixo em algo que não interessa de verdade. Eu queria uma pá de coisas agora, musculatura dolorida de carregar tudo sozinha. Cicatrizes que não fecham porque algum tonto sempre inventa de retirar a casquinha da ferida só por diversão.

Ando cansada... Sorriso, olho borrado, suspiro. Melhor cansada que amargurada, isso é certo. Então sigo, esperando o momento em que nenhuma das ligações não-atendidas terá mais importância. Quando não haverá pedacinhos para colocar ou tirar de quemquerqueseja. Não por desamor, porque essa é palavra feia que esconde des-coragem de se dar ao outro. Mas por des-importância recebida de presente pela certeza de que sou mesma dessas gentes que todo mundo pensa que suporta tudo. Desses bichos que retornam ao nosso lar sozinhos porque não se importam com as vezes que lhes abandonam no meio da rua. Matéria que não liga de ser deixada pra trás, ou porque compreende sempre tudo e sempre se recupera. E sempre perdoa. E sempre releva. E, mesmo cansada, sempre volta.

Tem quem pense que sou dessas gentes, desses bichos (...) Mas não sou não, eu sei. E daí que uma hora dessas eu simplesmente não volto. Desapareço porque entendi que não faço falta, e nisso não se esconde nenhum melindre, apenas medo de outra ferida. Não é porque suporto que gosto de me doer. Não gosto. Então um dia mudo o caminho e esqueço a rota do antigo lar. E sei que vão demorar de perceber a ausência não porque sou desimportante, mas porque mudar de direção é coisa de se fazer discretamente. Eu, moça que grita e faz barulho e preenche tudo também sei, escute bem, escorregar sem ruído. Devido aos anos de costume ninguém espera que o vento mude. E é bom porque essa coisa de discrição eu uso pouco, então sempre tem cheiro de novo. Gosto de coisa nova. E acho bonito ter algumas coisas dentro da gente que servem apenas para ocasiões especiais, igual a uma roupa de domingo. Me mostro do avesso, de portas abertas, escancaradas, a gente sabe. Mas é bom entendermos que sempre há gavetas, desvãos, cômodos escuros. E os meus estão aqui, cheios de matéria que recolho em dias como hoje. Dias sem grito, sem meneios de cabeça, sem saco para explicar qualquer coisa. E isso não é sinal dos melhores, eu sei.

Isabela, guarde todo o silêncio para suas fugas. Tá, concordo... O olho está borrado e o texto é ruim, mas é verdade. Então vale anotar a dica recebida em alguma página do bloquinho.

(...)

Sim, estou chateada e nem sei com o que. Nem com o quem, porque não há de fato um alguém. Só eu mesma: olho borrado, TPM, carência, frustração, saudade e goles de alguma coisa que entorpeça misturados para fazer o fim de semana passar mais rápido.

E que findem os recados!

Um comentário:

  1. Me vi tanto falando comigo mesmo nesse texto, tanto e tantas vezes e sempre me surpreendendo com que me digo, me ouço, me dói, e esqueço e relembro, refaço, re-dói e passa...

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