JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

sábado, 12 de junho de 2010

Da série MODUS OPERANDIS: Bulas, dicas e lembretes

Mas eu escrevo porque eu preciso. Palavras pra fora para enxergar o lado de dentro. Esvaziar os armários e selecionar o conteúdo. Lavar os cantos e identificar as fontes de mau-cheiro. Ou de calor, dependendo da posição do Sol...

Olhos de pedra, que me convidam a subir e me lançar. Encaro porque tenho vontade. Entrego toda a água de meu olhar para ser engolida pelo que é feito de rocha. (Engraçado eu ter demorado tanto a entender que o líquido que se adapta&molda pode corroer mais do que a dureza da pedra que se trinca num simples mudar de clima...). Eu me sorrio aos pedaços e seguro a fragilidade com as pontas dos dedos, mentalizando para não me virar em solo ao primeiro sopro do conflito. Tenho alma caprichosa, ô se tenho; e se reclamo é porque quero ficar e você não deixa, porque não entende. E - já assisti tantas versões desse filme... - um dia sou eu que vou querer partir. E me farei de vento, daqueles que escorrem pelas brechas das portas e ninguém pode impedir de seguir o rumo, deixando apenas o assobio doce por já ter passado.

E eu falo porque eu me perco. Camadas e camadas e camadas e camadas de sentir de mil cores e formatos. Nunca toquei no fundo que sustenta todos os andares desse recheio; tenho medo que a pressão de ir tão profundo exploda meus ouvidos me isolando para sempre em um mundo de imagens. Observo as fendas desse abismo do alto de minha covardia, que é tão alta pra algumas coisas e em outras horas precisa de um banquinho para alcançar os objetos nas prateleiras. Coragens voláteis...

E por que insisto? Porque eu gosto. Acho um charme cicatrizes e marcas e talhos; exibo com orgulho as lembranças de ter combatido mesmo com medo e depois estar ali, sã e salva, para contar a história bem alto. Meus leões já levaram pés, dentes, cabelos, pensamentos, devaneios e amores aos borbotões; algumas vezes abri a barriga das feras com minhas próprias unhas para reaver o que é meu. E houve momentos em que chorei encolhida na arena sob os gritos horripilantes dos espectadores achando graça de minha dor. Servir-se aos olhares é exercício difícil, mas desisti de ter medo de ser vista.

E, sabe, eu remôo porque aí eu me curo. Quero entender, quero entender, quero entender! Levar o cachorrinho à casinha, visualizar aonde se atam os laços. Não tenho como deixar de ser assim; seria preciso começar outra vez, retirando de minha composição todos os litros de curiosidade na qual minha carne foi marinada. Sou feita de interrogações (exclamações são ponto de interrogação que se esticaram sob a luz do entender), e de pontos de continuação, vírgulas e parênteses. Desses últimos eu tenho tentado me livrar, porque cada vez que saio deles eu esqueço a rota e decido começar novas estradas.

(...)

Ai... eu sei que isso cansa. Mas eu escrevo, eu encaro, eu falo, eu insisto, eu remôo para eu mesma não me esquecer abandonada nas curvas de tanto pensamento que me acompanha. E se quiser ir indo, pode ir, que eu já te alcanço mais na frente...

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