JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

terça-feira, 30 de março de 2010

Vontade 1.
Minha vontade não é de sair. Não é de pensar. Não é de estar aqui.
Vontade de me esconder do lado de dentro. Descolar a pele dos ossos, das juntas, dos músculos. Torná-la largo envelope de uma alma amassada, que no desencontro consigo mesma terminou nua no meio da larga avenida. Esqueci o ponto de referência e giro em círculos cada vez mais longos e dolorosos.
(...)

Segredo 2.
Chorei. Hoje chorei como não fazia desde o dia em que decidi cuidar de mim mesma sozinha. Arranhando a porta da vontade que não se abre para mim. Uivando a lua já distante, que não serve para qualquer coisa mais do que iluminar a minha melancolia. Preferia melancólica e na penumbra, mas até na tempestade meu recheio traz um rótulo auto-explicativo bem claro. Ironias...

Surto 3.
Eu escolhi. Busquei. Pedi. Fiz. Peguei na mão, só para ter certeza que minha dor é de não saber o que quero. Eu não sei. 
Pior! Eu creio que, em algum lugar bem remoto, eu traga todas as respostas e os planos de navegação de uma existência em eterno trâsito. Todas; que eu mesma teria escrito em longas madrugadas insones esquecidas logo após o nascer do dia seguinte. Acho que está tudo aqui, que tenho caminhado sobre elas, mas que eu desaprendi o idioma na qual estão escritas. Eu sei o caminho, mas não sei mais me orientar por seus guias. Eu sei ir, eu sei que sei, mas não acredito mais na memória. E a língua dos mapas&orientações me parece estranha agora, apesar de ter sido grafada com meu próprio punho. Como se nos instantes de lucidez eu corresse para registrar tudo, e o fizesse. E guardasse então as rotas com tamanho zelo para não as perder que, no momento em que me sento a alma na beira-da-estrada, eu desconhecesse os esconderijos por mim mesma inventados.
Eu queria ser de linha, de retas, de sólidos, de planos, de traço firme e não dessa droga de espuma flutuante que se desfaz ao som do vento. Dessa matéria que muda de cor, de forma, que se emaranha em si mesma, que se já é outra quando ainda nem entendeu a que se era antes.

Dor 4.
(...)

Grito 5.
Queria me descolar da minha pele. Queria largar esta existência aqui, sob meus pés. Amarrotá-la mesmo. Dispensá-la. Descartável. Queria poder começar de novo. Queria ser uma outra, a que fica e não a que vai. A que se finca e não se lança.
Queria querer de outros jeitos, com menos tinta. Queria uma para me guardar em meus sonos eternos de medo de tudo.Queria alguém que me olhasse dormir em mim mesma.
Queria pelo menos poder dormir aqui dentro, no calor do peito que poderia ser mais cálido.
Queria tanta coisa que desisto em mim. E eu sequer aprendi a fazer silêncio.

Eu preciso me dizer 'Pára!'. Mas no meu vocabulário só há 'corres', 'saltes', 'pules', 'lances'.
Pra onde vou agora?

Um comentário:

  1. Eu me encontro aqui. Como se pudesse ver-me dormindo dentro de mim ao te ver assim. Mas eu não entendo a que está dentro da que dorme, em mim nem em ninguém. Apenas olho, ouço, assombro e sigo, por não poder parar...

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