JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

domingo, 21 de outubro de 2012

Da série MENSAGEM NA GARRAFA: Le farfalle nello stomaco

Simples. Bem simples mesmo. De tão simples, a constatação da semana dói que não me larga. E veja que algumas coisas têm andado bem, bem até demais, a ponto de me carregarem nos braços e não me deixarem inerte nem um diazinho que seja.

(...)

Sonhos de ser novamente adolescente para poder choramingar semanas inteiras por conta de um machucadinho prosaico no ânimo. Há um desejo de correr até lá, interpelar, reclamar, exigir todaclarezadomundoagorababy! assim, em um fôlego só. Comprometer o dia, o mês inteiro, as horas de toda vizinhança com essa busca; desmarcar cada compromisso e dizer "Somente este projeto é importante agora, pessoal!" e ir atrás de tapar o buraco que me causaram bem aqui, entre o pulmão e a boca do estômago.

Eu até poderia, mas não quero. Mesmo que esta maldita náusea não passe, eu não quero me expor tanto assim. (Olhe só que ironia... eu não desejo me expor desta vez. rsrsrsrs)

Mas, atenção, não se precipite, caro leitor! Este recado vai ao vento, ao vazio, ao incerto. Não é destinado para você, nem para ele, nem para nenhuma delas em verdade. Os personagens são tantos, ó meu bem, mas não é para qualquer um deles. Este recado é para mim, projeto maior de uma vida comprida que tanto me desgasta. 

Se não é para ti, porque soltar verdades ao vento, afinal? Talvez porque desta vez nem a posição protetora, nem as longas siestas, nem o choro longo, nem os cafunés amigos vão amenizar a agonia que está cravada no meu juízo. Porque o que rejeitaram foi eu mesma, foram as minhas ideias que foram rejeitadas, minha visão de mundo que causou o desagrado, meu vocabulário que soou dodecafônico demais para uma alma troppo adagio. Sempre fui a moça do allegro, não há borboletas no estômago que me façam esquecer disto, mas me negaram por completo desta vez e isto é imenso demais para se curar em um par de dias.

As mãos tremem um pouco com a energia que sou obrigada a engolir desde que a náusea me foi doada. Rígida e esticada, braços içados e cabeça para cima como a moça do circo que enfia lanças goela adentro para impressionar a plateia atônita. Os espectadores que daqui se aproximam não costumam desembolsar nenhum tostão para conferirem o meu circo particular, mas eu me sinto meio mágica meio domadora nesses dias, estalando no ar o chicote que controla a fera que trago atrapada a meus calcanhares.

Nesta luta tão inútil, nunca sei se torço por mim ou pela besta de boca aberta à minha frente, porque ambas estão tão apavoradas que tudo o que despertam é pena e um pouquinho de tédio sincero.

(...)

Lembremos apenas: outros espectadores virão assim que este número chegar ao fim. Nauseada como for, sigamos enfim, porque o show não pode parar.

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