JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Da série VIVER NA BAHIA: Rainha do mar


Eu gosto mesmo de Iemanjá. Seja lá como esteja grafado seu nome, eu tenho imensa simpatia e crença nessa moça de espelho na mão, caprichosa e que tem, apenas, o mar inteirinho como morada. Chiquê pouco é pros fracos, afinal... rsrs

Na verdade, moça de criação católica que sou, fui cunhada sob a hégide da culpa, do castigo, do merecimento, da angústia, do temor. 

Demorei demais a entender a simplória mas tão poderosa lógica do 'aqui se faz, aqui se paga'. Essa idéia de que o que você planta é o que você colhe, com as devidas alterações de cor&formato, os imprevistos ruins e as surpresas positivas que naturalmente estão embutidas nessa aventura do 'se estar aqui'. Então eu tento, acima de qualquer coisa, ser justa comigo e com o mundo. J.u.s.t.a., nada mais do que isso - até porque já é bastante coisa! 

Isso porque morro de medo (olha aí o medo de novo, minha gente!) de ser punida (Foucault explica outra vez) pelo Universo por minhas injustiças. O terror que amparo em meu coração desde que me entendo por gente detém lógica tão simples que nem carece de um gráfico: se viver já é tão duro e estou eu fazendo tudo direitinho, eu não preciso de punições do cosmos. Meu medo é que na hora de retirar minhas benéfices lá no guichê dos que crêem no trabalho e no amor, a mocinha aqui, munida de sua guia comprobatória de anos de construção/ação/investimento/coragem, seja supreendida por uns descontos de má-sorte graças às injustiças feitas ao mundo e a seus pares. Ser injustamente remunerada aquém do investimento, simplesmente por ter se valido de injustiças para tomar mais do que lhe era de direito.

(...)

Sempre lembro de duas pessoas muitos amadas, um amigo e um ex-companheiro, responsáveis por iluminar minha mente em momentos de desespero e incapacidade de ação. O primeiro me lembrou apenas: Seus resultados serão sempre proporcionais a seus esforços. Essa frase simples foi a catapulta de coragem para a criação de meu solo, unicamente porque me livrei dos fantasmas de que não era habilitada para fazer aquilo (...e 5 anos estudando teatro na Universidade foi pra quê, maluca?) e da obrigação de um resultado genial. 

Já o segundo moço - pessoa que considero de sucesso por dentro e por fora - fazia ecoar em nossa casa a máxima: Eu só quero o que é meu. Nem mais, nem menos. Mas apenas o dele por direito. (...) Libertador assim...

Aí que retorno à Iemanjá; eu sempre a saúdo quando entro no mar, quando vira o ano, no seu dia... E peço trocentas mil desculpas quando furo com ela e, se for o caso, mesmo com meses de atraso eu a cumprimento pela data festiva perdida. Agradeço, pergunto, me equilibro. E peço. Muitas coisas... Cada vez com mais cuidado, porque ela é moça danada e me deu absolutamente tudo que pedi. Ainda que seja um ato totalmente haribô por essência, entendo essa potência muito menos como que uma ação mágica a mudar meu destino do que se poderia pensar de início; a clara sensação que tenho é que a mistura de grandeza, água, sal e movimento me desanuvia o pensamento e me faz enxergar o melhor caminho que já está aqui dentro mas ainda não conseguia acessar. E isso já basta.

(Quando morava na Pituba perdi as contas das vezes que peguei o ônibus que passava pela orla simplesmente para dar um alô para a moça e me reestruturar internamente...)

É por isso que daqui a pouco vou ali cumprimentá-la. Mais do que pela festa, as pessoas, a bagunça: por ela. Porque lhe devo um monte de respostas encontradas. (Dicas de melhor aproveitamento de minha matéria mais secreta, aquela alocada no fundo de minhas profundezas e içada à superfície num golpe de clareza da mente.) Devo isso a ela e não posso deixar de lhe dizer. A gratidão é outra dessas lógicas que tenho aprendido e rendido homenagens a cada novo dia.

Vou ali pedir a benção e me iluminar por dentro por mais um período. E aí que lembro de um outro homem muito importante na minha vida, a me dizer num momento de profunda confusão: Todas as soluções estão aí dentro, basta encontrá-las. Mas somente quando cessam as perguntas é que as respostas se apresentam.

Odoyá!

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