JARDIM DOS ENCONTROS
Lugar de encontrar palavras, devaneios, imagens e sonhos plantados a esmo.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

DA SÉRIE PALAVRAS AO VENTO: Oração

Energias criativas misturadas ao sangue; tudo corre mais veloz agora. Foram meses de luto mudo. 
Silêncio que ecoava na pele.
E chorava copiosa por um morto de quem eu sequer sabia o nome.
(I wanna go home, buddy!)

E minha loucura engoliu o inconsciente e me fez ser randômica em todas as direções. Mas, gracias!, veio a indulgência contemporânea do trabalho, o autoflagelo do trabalho, a dolorosa concentração do trabalho. (Não necessita das rezas quem têm tantas contas a pagar. Meu Deus mora dentro de envelopes timbrados. Nunca entendi como ele se faz caber.)
O foco sai de dentro e vai parar em cima da mesa, empilhados de papéis que desadoecem o juízo. Não há mais padres, não há mais confissões anônimas, não há mais sigilo. A dor agora está exposta em linha e isso é, sim, alívio exibicionista de expandir-se ao infinito.

Chorei os mortos dos outros porque para os meus não cheguei a tempo. Sabe como é; o trânsito nesta época é uma loucura.

Erro e pane e freio e barulho e choque e grito! Ah!
Mas ainda bem que os envolvidos não se feriram. Não se espalharam no asfalto, deselegantemente virados ao avesso. Foi PUM e nada. Silêncio.
De olhos abertos, se foram sem dar uma palavra. Mortos, enfim.

(...)

Sorte minha passar ali bem no momento. Sorte dramática a minha.
Desprender algumas lágrimas com pelo menos um motivo aparente. Pouco importam os nomes mas sim os guinchos copiosos que finalmente posso deixar escapar.

Sorte minha desconhecer tantos nomes. Olhar de longe é mais fácil, sabe isso?...

Nenhum comentário:

Postar um comentário