Eu aprendi a pedir. Desde pequena eu sou uma pequena pidona, dessas que sabem exatamente o que querem (e descobri como fazer meu desejo soar de maneira mais branda aos ouvidos de quem escuta). E pedia claramente o que eu queria de aniversário, acompanhava meus pais no mercado para pedir-lhes caprichos in loco, assuntava com o irmão para ele me dar um pedacinho da sobremesa dele, apontava com dedo em riste os meus quereres momentâneos. E, como querer não é poder, eu precisei aprender também desde cedo que ao encontro da pergunta sempre vem uma resposta e muitas vezes ela não é a que queremos escutar. E aos tantos quereres meus, muitos nãos alheios se apresentaram, e com uma fome do tamanho do Alabama dentro do peito não haveria eu de chegar viva à vida adulta se eu não aprendesse cedo a ouvir negativas aos meus pedidos.
E aprendi isso também.
Então, vendo algumas pessoas expressarem mal seus desejos e suas dificuldades de negociá-los, eu sempre penso em como eu mesma lido com as coisas. Ao contrário de algumas amigas que pensam que se expor menos é o caminho para se machucar menos, eu acho que se expor mais é o caminho para fortalecer-se diante de todas as quedas que nossos desejos vão nos dar. A prudência é parceira dos sábios, isto é certo, mas o medo das frustrações é conselheiro preguiçoso que termina por embotar a nossa vontade.
Eu não quero ter uma vontade embotada, eu quero é ter uma vontade florescida e olorosa, gigante e cheia de poder, por isso preciso nutri-la bem. Mas se é necessário dar alimento para a planta crescer é igualmente importante fazer-lhe a poda para que ela não domine todo o canteiro e esgote a terra que a sustenta. Nutrir e podar; combinação prática de ações que tenho aplicado à torrente diária de quereres que me move. Cada vez que alguém tem medo de pedir ou espera que o outro lhe adivinhe as vontades ou tenta impor-se por receio de não ter o desejado ou culpa ao mundo pelo objetivo que não alcançou, cada vezinha que isso acontece eu tenho vontade de estapear a pessoa e berrar-lhe na cara: Pára!
Porque o mundo preexiste a nossos anseios e corre a largo deles, então concentrar-se no lado de dentro é o primeiro passo para chegar aonde a gente quer. O mundo está aí, numa existência completamente alheia ao que nos é importante; galopemos então sobre nossas vontades ao invés de esperar que alguém puxe nossa carroça. Eu faço muuuuuuuuuuuuuuuita coisa por mim mesma porque eu estou convencida de que a existência não está nem aí pra mim. Então, eu que não me molde não aos acontecimentos pra ver se não parto em duas na primeira tempestade...
Na minha loucura cotidiana vejo um fato: o MUNDO não está se importando com minhas dores e vontades, então para fazê-las audíveis é preciso gritar alto. E eu grito!
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
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