A rotina apura o meu olhar para poesia. Teoria da física: o movimento de velocidade contínua é também inerte, pois é na variação que a dinâmica se dá. Se minha vida atinge uma velocidade e ali se mantém, a inércia abre as portas da percepção e libera o ânimo para olhar a paisagem.
(...)
Decidi ser artista para ter um desafio novo a cada dia. Consegui o que queria. Na verdade eu poderia dizer que desde os 20 anos eu estou sofrendo de uma overdose de desafios, com raros momentos de exceção. Nesses instantes de pausa, o corpo nem sabia bem o que fazer com tamanha tranquilidade e terminou por adoecer de dores pra dentro e pra fora. Carro de corrida projetado para vôos em solo, meu espírito nunca sabe como se portar quando o condutor deseja apenas passeios dominicais em uma arborizada rua local.
Mas eis que, a rotina, ela me distrai. A tranquilidade em movimento é como a paisagem da infância a passar pela janela do carro da família, num fluxo tão veloz quanto constante, tudo tão interessante e monótono que mal dava pra ver quando já estávamos desembarcando em terras do sul.
Preciso de rotina. Para poder sobreviver ao disparar, estancar, respirar, re-disparar, preciso de alguma monotonia. Para que a poesia retorne, para que o corpo se ajuste, para a respiração voltar ao normal.
Atenção ao passo, então!
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